Xi Jinping garante que “desígnio histórico” de “reunificação” com Taiwan será alcançado
Promessa do chefe de Estado chinês surge numa altura de elevada tensão no Estreito de Taiwan. Autoridades da ilha dizem que a população rejeita a anexação por Pequim.
O Presidente chinês, Xi Jinping, escolheu o “separatismo pela independência de Taiwan” como o grande inimigo do objectivo de “reunificação” entre a China e a ilha. Num discurso em Pequim, este sábado, o líder chinês não referiu o uso da força contra Taiwan, mas prometeu cumprir o “desígnio histórico” de reunir a ilha com o continente.
As palavras de Xi não são novas, nem as promessas de reunificação entre a China e Taiwan, o território para onde os nacionalistas fugiram em 1949 depois da derrota contra a guerrilha comunista e que é desde então governado de forma democrática. Mas são proferidas num momento de particular tensão entre Pequim e Taipé.
Esta semana, o ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, apresentou uma projecção que aponta para a forte possibilidade de até 2025 a China ter reunido as capacidades militares necessárias para invadir a ilha. Nos dias que antecederam o aviso de Chiu, as já habituais incursões de aviões militares chineses no espaço aéreo taiwanês intensificaram-se a uma escala inédita – em menos de uma semana foram registadas cerca de 150 aeronaves a sobrevoar a ilha.
Poucos dias depois do aviso das autoridades taiwanesas, Xi aproveitou o discurso no aniversário da revolução que derrubou a última dinastia imperial que governou a China, em 1911, para reafirmar o seu objectivo de reunificar os dois territórios. “O separatismo pela independência de Taiwan é o principal obstáculo para que a reunificação com a pátria seja alcançada, e é o perigo oculto mais perigoso enfrentado pelo rejuvenescimento nacional”, declarou Xi, citado pela agência estatal Nova China.
“A reunificação completa do nosso país pode e será concretizada”, afirmou o líder chinês.
As agências internacionais notam um tom menos agressivo por parte de Xi em contraste com a postura adoptada num discurso em Julho em que prometeu “esmagar” qualquer tentativa de declaração unilateral de independência por parte de Taiwan.
As autoridades de Taiwan condenaram o que dizem ser ameaças por parte de Pequim e recordaram o seu percurso político separado da China nas últimas décadas, dizendo que a população rejeita a fórmula “um país, dois sistemas” defendida pelo Partido Comunista Chinês – trata-se da solução política à luz da qual Hong Kong e Macau são administradas pela China e que Xi gostaria de ver aplicada a Taiwan.
“O futuro da nação permanece nas mãos do povo de Taiwan”, declarou o gabinete da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.
O Conselho para os Assuntos Continentais de Taiwan exigiu a Pequim para “abandonar os passos provocatórios de intrusão, intimidação e destruição”.
A tensão latente entre a China e Taiwan tem deixado exposta as incongruências do vago arranjo diplomático sobre o qual têm estado assentes as relações entre os dois territórios e o resto do mundo. Para Pequim, Taiwan é uma província “temporariamente ocupada” e cuja reintegração por meios pacíficos é uma questão de tempo, embora as autoridades chinesas nunca tenham afastado por completo a possibilidade de uma intervenção militar.
Taiwan, que tem com os EUA uma aliança militar e um longo histórico de aquisição de armamento, defende o seu estatuto como representante do poder chinês e encara o regime comunista como um ocupante. No entanto, a par dessa reivindicação, as autoridades taiwanesas têm de garantir a sua própria soberania sobre a ilha que governam desde 1949 e que é o único território onde o seu poder é exercido de forma efectiva.