DGS quer dar vacina da gripe e terceira dose covid ao mesmo tempo. Aguarda-se parecer da OMS

Dose de reforço contra a covid-19 irá começar na próxima semana, mas ainda sem data certa. Pessoas com 80 e mais anos e residentes em lares ou em unidades de cuidados continuados são os prioritários.

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Rui Gaudêncio

Se for possível, é este o caminho que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) quer seguir: a administração conjunta da terceira dose da vacina contra a covid-19 e da vacina contra a gripe. A directora-geral da Saúde explicou que aguardam um documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesse sentido, mas se assim não for, assegurou que o plano B – a administração das duas vacinas com um intervalo de 14 dias está pronto a arrancar. O processo de reforço da vacina contra a covid irá começar na próxima semana, mas ainda sem dia certo devido a esta espera pela recomendação da OMS. As pessoas com 80 e mais anos, assim como os residentes em lares ou em unidades de cuidados continuados, são os grupos prioritários.

“A expectativa é que aconteça dentro pouco tempo, que a OMS produza informação que permita aos países administrar no mesmo tempo de vacinação ambas as vacinas. Seria óptimo para as pessoas porque é mais confortável e também mais fácil para os enfermeiros, para a logística e para os serviços. Esta nossa vontade de co-administração ainda não está concretizada em documento, que esperamos da OMS. Se acontecer, este será o caminho”, disse Graça Freitas, em conferência de imprensa. Um estudo britânico, publicado recentemente, aponta que é segura a co-administração das duas vacinas e também o Centro de Controlo de Doenças (CDC, em inglês) norte-americano deu a mesma indicação.

Quanto à vacinação contra a gripe, que começou no dia 27 de Setembro e cujas prioridades iniciais são os utentes de lares, profissionais de saúde e do sector social e grávidas, a directora-geral da Saúde adiantou que já têm “registadas cerca 130 mil inoculações, das quais 63 mil são em pessoas com 80 ou mais anos”. O país adquiriu 2,2 milhões doses no âmbito do SNS e o sector privado cerca de 700 mil doses.

A norma revista da vacinação contra a covid vai ser publicada esta sexta-feira, mas para já “na versão mais conservadora” até que se conheça a posição da OMS. Ou seja, a indicação de um intervalo de 14 dias entre a administração das duas vacinas. Quanto à data de início da vacinação da terceira dose da vacina contra a covid, “o dia concreto não é possível dizer, porque depende da resposta às outras perguntas”, afirmou Graça Freitas, referindo que espera que o relatório da OMS possa ser publicado ainda esta sexta-feira. “Mas se não for, será nos próximos dias. Vamos deixar claro que temos tudo pronto para começar o plano B, que são os 14 dias. Dava imenso jeito a co-administração porque só é preciso chamar as pessoas uma vez para as duas vacinas. Daí o compasso de espera”, explicou.

O anúncio da administração da terceira dose da vacina contra a covid-19 a pessoas com 65 e mais anos foi feito na passada segunda-feira, pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde. Nessa altura, António Lacerda Sales referiu que a dose de reforço seria realizada por ordem decrescente de idades e que o processo se iniciaria na próxima segunda-feira.

Eficácia a cair

“Vamos iniciar a terceira dose ou dose de reforço a pessoas com 65 ou mais anos. A prioridade são as pessoas com 80 ou mais anos e as pessoas que são residentes ou utentes de lares e de unidades da rede de cuidados continuados ou instituições similares. Vamos priorizar estes dois grupos”, explicou a directora-geral da Saúde, referindo que esta terceira dose deverá ser administrada seis meses após a última dose contra a covid e o objectivo é estimular a imunidade conferida anteriormente. Adiantou ainda que para já não há indicação para que os recuperados tomem uma dose de reforço.

A priorização dos mais velhos, disse Graça Freitas, tem a ver com o decaimento da imunidade dada pela vacina. Segundo Baltazar Nunes, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), os estudos realizados até ao momento mostram um decréscimo na taxa de eficácia da vacina a partir dos quatro/cinco meses após a conclusão do esquema vacinal. “Temos verificado que a efectividade da vacina contra a infecção sintomática (doença ligeira ou moderada) tem decaído com o tempo, nomeadamente na população com 80 ou mais anos. Mas também na população com 65 aos 79 anos. Nos casos de doença ligeira, a eficácia atingiu um máximo de 70% a 80% no primeiro mês a seguir ao esquema completo de vacinação, mas decaiu para cerca de 30% a 40% após quatro a cinco meses”, explicou.

Baltazar Nunes adiantou que contra a hospitalização no grupo etário dos 80 e mais anos também houve um decaimento da efectividade da vacina, passado de “80% no primeiro mês após a segunda dose para os cerca de 60% quatro a cinco meses após a segunda dose”. Quanto à protecção contra a morte, a eficácia passou dos 87% no primeiro mês após o esquema completo para cerca 75% nos quatro a cinco meses após a segunda dose. O responsável adiantou ainda que não se observou um decaimento​ na eficácia contra doença grave na faixa etária dos 65 aos 79 anos, mas salientou que o tempo de observação é menor. ​ 

Centros de saúde e de vacinação na administração

Apesar de ser pouco provável que o arranque da vacinação de reforço contra a covid aconteça logo na segunda-feira, Graça Freitas admitiu que é possível que as pessoas possam começar a receber convocatórias ainda esta sexta-feira. “Mas não quer dizer que seja para serem vacinados na segunda-feira. Há necessidade de os serviços se organizarem e de as pessoas se organizarem para irem à vacinação.”

As pessoas tanto poderão ser vacinadas em centros de saúde como nos 340 centros de vacinação distribuídos pelo país. “O esquema vai ser misto: quer centros de saúde como centros de vacinação. Será feito de acordo com as características da população, a densidade populacional, a dimensão dos Aces [Agrupamentos de centros de saúde], as​características dos profissionais”, disse Graça Freitas. A chamada dos utentes será por SMS, mas não só. “Haverá uma sequência de activações. SMS, telefonema, carta e os próprios centros de saúde têm mecanismos para alcançar os utentes e convidá-los a ir à vacinação”, acrescentou a responsável, deixando um apelo a que todos os idosos adiram à vacinação de forma a estarem mais protegidos no Inverno.

Antes da decisão de avançar com o reforço da vacinação contra a covid nos mais velhos, a DGS já tinha recomendado em Setembro a administração de uma terceira dose da vacina às pessoas com imunossupressão. Fazem parte deste grupo – que se estimava não ser superior a 100 mil pessoas doentes transplantados, seropositivos, doentes oncológicos activos a fazer quimioterapia ou radioterapia ou pessoas com doenças auto-imunes que tenham sido sujeitas a tratamento. Segundo a directora-geral da saúde já foram vacinadas 12 mil a 13 mil pessoas. “Estamos a fazer, com a Ordem dos Médicos, um apelo a todos os médicos para dêem a indicação para que todos estes doentes possam ser vacinados.”

Recentemente o epidemiologista Manuel Carmo Gomes disse ao PÚBLICO que também faria sentido dar uma dose de reforço aos profissionais de saúde, tendo em conta que muitos já foram vacinados há nove meses e estão mais expostos ao risco pelas funções que desempenham. A hipótese deste alargamento aos profissionais de saúde e de lares mantém-se em estudo, adiantou Graça Freitas.

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