Como cantava Sérgio Godinho, o passado é um país distante. O cinema português contemporâneo tem cartografado, de forma persistente, as geografias afectivas desse “país distante”: uma procura pelos interstícios do tempo, assim como um olhar para dentro, para os lugares mais íntimos do devir da sociedade portuguesa entre a segunda e a terceira década do século XXI. Este é o contexto mais amplo que nos permite enquadrar A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos, que esta semana estreia nos cinemas portugueses depois de uma intensa e bem-sucedida carreira por festivais internacionais. A partir deste filme, encontram-se sinais de um regresso à intimidade familiar e a um certo cinema caseiro, utilizando um conjunto de recursos cinemáticos para dar conta de uma complexa teia de memórias e afectos. E nesse fazer, promete-nos, enquanto espectadores, uma viagem sobre os escombros e as ruínas de um outro Portugal, cuja sombra paira constantemente sobre nós. Uma sombra que tem sido perscrutada por diferentes cineastas do cinema português recente.
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