Apoiantes de Montenegro inclinados para Rangel

O eurodeputado foi eleito conselheiro nacional nas listas de Rui Rio, mas é quem pode capitalizar a desistência de Montenegro num eventual cenário de disputa contra o actual líder do PSD.

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Paulo Rangel teve ao seu lado Luís Montenegro numa acção de campanha das europeias de 2019 LUSA/TIAGO PETINGA

A recente decisão de Luís Montenegro de não avançar com uma candidatura à liderança do PSD deixou muitos dos seus apoiantes à procura de uma alternativa. Há quem não tenha dúvidas de que Paulo Rangel, caso venha a ser candidato, é a solução por protagonizar uma alternativa a Rui Rio. Mas nem todos vão mudar de campo e alguns ponderam ficar com o actual líder do partido. Hoje, Rio reúne-se com as distritais, na sede do partido em Lisboa, no primeiro encontro após as autárquicas.

Os apoiantes de Luís Montenegro são, em muitos casos, fortes críticos da liderança de Rui Rio, o que os transporta obrigatoriamente para o campo oposto na disputa eleitoral interna. Neste momento, o partido ainda está a medir a temperatura até porque nenhum dos potenciais candidatos — Rui Rio e Paulo Rangel anunciou qualquer decisão. O antigo ministro Jorge Moreira da Silva, que pode vir a protagonizar uma terceira via, também se mantém em silêncio. 

Caso venha a ser candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel pode capitalizar a desistência de Luís Montenegro depois de já estar a acumular os apoios de Miguel Pinto Luz. O antigo líder parlamentar de Passos Coelho ficou a pouco mais de dois mil votos de Rui Rio nas últimas directas, mas acabou por retirar-se por não poder arriscar a perder as eleições internas uma segunda vez e optou por ficar como reserva para o futuro. Luís Montenegro só foi candidato à liderança uma vez e foi derrotado pelo actual líder, mas um ano antes também falhou a tentativa de derrubar Rui Rio ao desafiá-lo para eleições antecipadas. Mais um fracasso poderia ser o equivalente a uma morte política no PSD.

Agora, num cenário de disputa entre Rio e Rangel, é o eurodeputado quem pode aspirar a receber a maioria dos 46% (perto de 15 mil votos) que Montenegro conquistou em Janeiro de 2020. Até porque, desde então, refere um apoiante do antigo líder da bancada, Rui Rio nunca tentou o caminho do consenso interno. Os apoiantes de Montenegro mais dispostos a vir a estar ao lado de Rangel são, sobretudo, os que nunca apoiaram Rui Rio. Há outros que já deram apoio ao actual líder, sobretudo na primeira candidatura à presidência do PSD, em 2018, e que podem voltar a ficar ao seu lado na próxima disputa interna. Braga é uma das distritais em que Luís Montenegro tinha muito peso ganhou nas últimas directas e cuja desistência pode vir a beneficiar Rangel.

Mas a distrital mais problemática é a do Porto, já que é o território natural de Rui Rio e Paulo Rangel, e a região onde partilham eleitorado. Os pró-Rangel lembram que “não houve uma onda a favor de Rio” no partido mas os próximos da actual direcção estão à espera do anúncio de candidatura para poderem assumir a sua posição abertamente.

O líder do PSD tem a vantagem de controlar o calendário eleitoral que, se for acelerado, pode prejudicar o adversário. É que, se as eleições directas forem marcadas para meados de Dezembro, os militantes terão de pagar as quotas (para assim poderem votar) até um mês antes, o que não deixa muita margem de manobra para a regularização dos pagamentos. O processo eleitoral interno só vai ter início no conselho nacional de 14 de Outubro, no qual também está na agenda a análise do resultado das autárquicas. O conselho nacional deverá ser um palco para Rui Rio tentar mobilizar o partido com os resultados das autárquicas. É o órgão máximo entre congressos e Paulo Rangel também tem nele lugar: foi eleito no congresso de 2020 como o primeiro nome da lista apoiada por Rui Rio. Agora, prepara-se para se apresentar como alternativa. 

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