Líderes mundiais implicados nos Pandora Papers dizem nada ter feito de ilegal

Na República Checa, as revelações sobre o primeiro-ministro, a poucos dias das eleições legislativas, podem ter um impacto político imediato. Oito países anunciam abertura de investigações.

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Andrej Babis foi eleito com a promessa de combater a corrupção e a evasão fiscal Reuters/POOL

Promessas de investigações e rejeição de irregularidades compõem, de uma forma geral, as reacções à mega-investigação dos Pandora Papers que expôs as ligações de vários líderes políticos mundiais e empresariais a paraísos fiscais com o objectivo de ocultarem as suas fortunas.

Na República Checa, as revelações acerca da compra de um castelo no sul de França pelo primeiro-ministro Andrej Babis surgiram num momento particularmente sensível, a poucos dias das eleições legislativas marcadas para o próximo fim-de-semana. O trabalho levado a cabo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que integra títulos como o Guardian, BBC, El País e o Expresso, mostra que Babis adquiriu uma mansão perto de Cannes em 2009 por 15 milhões de euros. Até chegar ao vendedor do imóvel, o dinheiro passou por três empresas offshore com o objectivo de manter o negócio em segredo.

Babis, um dos homens mais ricos do país que chegou a primeiro-ministro com um discurso anticorrupção e contra a evasão fiscal, negou ter cometido qualquer irregularidade. “O dinheiro saiu de um banco checo, foi taxado, era o meu dinheiro, e regressou a um banco checo”, afirmou o primeiro-ministro durante um debate televisivo. Apesar das garantias dadas por Babis, as autoridades policiais checas disseram que vão abrir um inquérito para apurar potenciais crimes de evasão fiscal.

No entanto, o caso pode ter implicações políticas imediatas, dada a proximidade das eleições. Ainda antes da revelação dos Pandora Papers, o ANO, o partido fundado por Babis, já estava em queda nas sondagens, embora continue a ser o mais votado, e é possível que venha a ser castigado nas urnas.

Outros sete países – Espanha, Brasil, Austrália, México, Paquistão, Panamá e Sri Lanka – prometeram abrir investigações aos políticos, empresários e celebridades cujas ligações a paraísos fiscais foram expostas pelas investigações. No Brasil, a oposição quer chamar o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à Câmara dos Deputados para dar explicações e vai ser aberto um pedido de investigação junto do Ministério Público Federal. Os dois responsáveis mantêm empresas em paraísos fiscais que, embora tenham sido comunicadas à Receita Federal, podem dar origem a conflitos de interesse.

O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, também prometeu investigar o envolvimento de alguns dirigentes muito próximos de si, incluindo o actual ministro das Finanças, com paraísos fiscais.

“Sem fundamento”, diz Kremlin

O Kremlin desvalorizou as revelações que incidem sobre personalidades próximas do Presidente russo, Vladimir Putin, como uma alegada amante e um dos seus amigos de infância, ambos citados como titulares de fortunas escondidas em bancos offshore. Embora os Pandora Papers não refiram Putin especificamente, a divulgação destas relações dá força à tese de que o homem que governa a Rússia há mais de duas décadas é o verdadeiro dono de um conjunto de fortunas que apenas são formalmente detidas por alguns elementos do seu círculo próximo.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que os casos que envolvem os aliados de Putin estão baseados em “alegações sem fundamento” e preferiu apontar baterias para os EUA como a “maior lagoa” de paraísos fiscais do planeta.

O rei Abdullah da Jordânia é um dos líderes mundiais mais proeminentes citado pelos Pandora Papers como tendo movimentado mais de cem milhões de dólares através de bancos offshore para comprar propriedades de luxo no Reino Unido e nos EUA. O palácio real disse que “não é segredo” o historial de aquisições por parte do monarca e rejeitou qualquer ilegalidade. “Nenhum destes gastos foi financiado pelo orçamento de Estado ou pela tesouraria”, garantiu.

A implicação de um dos principais financiadores da campanha do Partido Conservador do Reino Unido num negócio que envolveu o suborno da filha do antigo Presidente do Uzbequistão, Islam Karimov, levou o Partido Trabalhista a exigir a devolução do dinheiro doado ao partido. Em causa estão 750 mil libras (878 mil euros) que o empresário Mohamed Amersi doou aos tories desde 2018 e que ajudaram Boris Johnson a ser eleito em 2019.

Johnson recusou comentar o caso revelado pelos Pandora Papers, e apenas garantiu que as doações recebidas pelo partido são “verificadas”.

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