Morreu Bernard Tapie, o polémico antigo presidente do Olympique de Marselha
Tapie morreu de cancro aos 78 anos. Foi uma presença constante durante mais de 50 anos de vida pública em França, e caiu em desgraça na década de 1990 na sequência de um caso de corrupção desportiva.
O empresário e político francês Bernard Tapie, mais conhecido fora de França pelos anos em que presidiu ao clube de futebol Olympique de Marselha e por um caso de corrupção desportiva, morreu este domingo aos 78 anos, três anos depois de ter sido diagnosticado com cancro do estômago e cancro do esófago.
“Dominique Tapie e a sua família comunicam com muita tristeza a morte do seu marido e pai, Bernard Tapie, a 3 de Outubro, às 8h40, de cancro”, disse a mulher do empresário num comunicado enviado ao jornal La Provence, de Marselha.
Para além da aquisição de clubes desportivos nas décadas de 1980 e 1990 (o Olympique de Marselha e a equipa de ciclismo La Vie Claire), e de uma vida empresarial centrada na recuperação de empresas em falência, Tapie foi deputado na Assembleia Nacional francesa — primeiro entre 1989 e 1992, e depois entre 1993 e 1996 — e ministro das Cidades durante um total de quatro meses, em 1992 e 1993, num Governo de François Mitterand.
Este domingo, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, referiu-se a Tapie como “um lutador”. E o Presidente Emmanuel Macron descreveu-o como “uma lenda dourada afectada pelas muitas sombras” dos seus problemas com a Justiça.
"Muito empenhado contra a extrema-direita, mas principalmente por causas, pelo clube, pela sua cidade, pelos negócios”, disse Castex.
“O homem que tinha espírito de combate suficiente para mover montanhas, nunca baixou as armas e lutou contra o cancro até aos seus últimos momentos”, disse Macron, enaltecendo “a ambição, energia e entusiasmo” que “inspiraram gerações de franceses”.
A vida agitada e polémica de Tapie levou-o também a experimentar carreiras no mundo da música e do cinema a partir da segunda metade da década de 1990, quando a condenação por corrupção desportiva e uma batalha judicial com o Crédit Lyonnais o deixaram na bancarrota e o impediram legalmente de ser eleito para ocupar cargos na política.
Como cantor, teve uma carreira efémera e sem sucesso; como actor — primeiro no cinema e depois no teatro e na televisão —teve trabalhos elogiados pela crítica.
Corrupção e bancarrota
Nasceu em Paris, em 1943, filho de um canalizador, e transformou-se num dos homens mais ricos e mediáticos do país, tendo comprado o Olympique de Marselha em 1986 e a Adidas em 1990. Usou o seu carisma e entrou na política em 1989, tendo chegado a ser ministro num Governo de Mitterrand.
Mas caiu em desgraça a partir de 1993 — no ano em que o Marselha se sagrou campeão europeu de futebol, depois de quatro anos consecutivos como campeão francês —, mergulhado num escândalo de suborno a três jogadores de uma equipa adversária.
“Era rico, já não sou. Estava na moda, já não estou. Era presidente de um clube campeão europeu, já não sou. Tinha negócios, já não tenho”, disse ao Le Figaro em 1995. “Muitos franceses têm mais razões para se queixar do que eu.”
Embora a sua condição física tenha piorado nos últimos meses, Tapie continuou a fazer aparições nos meios de comunicação para comentar questões políticas actuais.
Em Abril, foi assaltado e agredido em sua casa, com Tapie e a sua mulher a serem algemados e espancados por ladrões, que levaram jóias e relógios. No mês seguinte, Tapie renunciou a recorrer da última sentença num processo por fraude sobre a venda da Adidas.
O polémico empresário será sepultado em Marselha, “a cidade de seu coração”, como era o seu desejo, anunciou a família.