Taiwan denuncia maior incursão aérea da China com 38 caças e bombardeiros nucleares
Governo de Taipé enviou caças para interceptar os aviões chineses e accionou sistemas anti-aéreos, e acusa Pequim de “agressão militar desenfreada”.
O Governo chinês assinalou os 72 anos da proclamação da República Popular da China, na sexta-feira, com o envio de um número recorde de 38 caças e bombardeiros com capacidade nuclear para a zona de identificação aérea de Taiwan. A acção de Pequim foi recebida na ilha como o maior sinal de “agressão militar” no último ano.
Segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, a incursão chinesa aconteceu em duas vagas — primeiro com o sobrevoo de 18 caças J-16, quatro caças Su-30, dois bombardeiros H-6 e um avião anti-submarino; e depois com a passagem de dez J-16, dois H-6 e um avião com sistema aéreo de alerta e controlo.
O primeiro grupo passou ao largo da Ilha das Pratas, no Mar do Sul da China, que é administrada por Taiwan; e o segundo sobrevoou as águas entre Taiwan e as Filipinas, onde se cruzam o Mar do Sul da China e o Oceano Pacífico.
As duas regiões ficam na Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan — uma área definida por cada país, tecnicamente em águas internacionais, que tem como objectivo antecipar a violação do seu espaço aéreo.
Em resposta, o Governo taiwanês enviou caças para interceptarem os aviões chineses e accionou os seus sistemas de mísseis anti-aéreos.
“A China está apostada em realizar acções de agressão militar, o que prejudica a paz regional”, disse o primeiro-ministro taiwanês, Su Tseng-chang, numa conferência de imprensa na manhã deste sábado.
O Governo chinês ainda não se pronunciou sobre o caso, mas tem dito, noutras ocasiões, que este tipo de operações tem como objectivo proteger a sua soberania em face de um “conluio” entre Taiwan e os Estados Unidos.
"Mosca estridente"
Um dia antes, na quinta-feira, o Governo chinês referiu-se ao ministro dos Negócios Estrangeiros taiwanês, Joseph Wu, como “uma mosca estridente”, numa referência a um poema escrito por Mao Tsétsung em 1963, sobre a atitude dos Estados Unidos e da União Soviética: “Neste minúsculo globo, umas quantas moscas arremetem de encontro à parede, zumbindo sem cessar, ora estridentes, ora gemendo.”
“Os comentários sobre a independência de Taiwan são apenas moscas a zumbir, umas vezes mais estridentes, outras vezes a gemer”, disse o Gabinete de Assuntos sobre Taiwan, em Pequim.
Taiwan — formalmente República da China — nasceu em 1949 da derrota na guerra civil contra os comunistas de Mao Tsétung, fundador da gigante República Popular da China.
A China considera Taiwan a sua 23ª província e mantém a ameaça de ataque militar caso Taiwan declare a independência.
Nos Jogos Olímpicos e noutros fóruns internacionais, Taiwan apresenta-se como “chinese-Taiwan”, um híbrido com o qual os taiwaneses convivem em nome de uma progressiva integração na vida internacional que não hostilize Pequim.
Entre 1949 e 1971, o lugar da “China” nas Nações Unidas foi ocupado pelo Governo de Taipé e não pelo de Pequim. Mas hoje, passados todos estes anos, só o Vaticano e 21 Estados-membros da ONU têm relações diplomáticas plenas com Taiwan. São países como o Burkina-Faso, São Tomé e Príncipe, Palau, as ilhas Marshall, Tuvalu ou Kiribati. Nem Portugal nem nenhum país europeu reconhecem a soberania de Taiwan.