EUA pressionam maiores economias a “esticarem-se mais” no combate às alterações climáticas
John Kerry, o enviado da Administração Biden para as questões do clima, diz que as contribuições dos países mais desenvolvidos “devem passar dos milhares de milhões para os biliões”.
A urgência no combate às alterações climáticas levou o enviado especial dos Estados Unidos para as questões do clima, John Kerry, a pressionar os países mais desenvolvidos — e os mais poluidores — a anunciarem, na 26.ª cimeira das Nações Unidas sobre o clima (COP26), um aumento das suas contribuições para além do reforço que já é necessário.
Em Milão, num encontro de preparação da COP26, que vai começar no final de Outubro em Glasgow, na Escócia, o antigo candidato à Presidência dos EUA disse que os países têm de “esticar-se mais” nas suas contribuições, porque só com um reforço do empenho traduzido em dinheiro será possível acreditar que os governos estão verdadeiramente empenhados no combate às alterações climáticas.
Em 2015, na cimeira da ONU em que foi negociado e assinado o Acordo de Paris, um grupo de países que representa cerca de 55% do Produto Interno Bruto global comprometeu-se com o objectivo das emissões zero até 2050 — o ponto em que as emissões de gases com efeito de estufa ainda causadas pelo homem alcançam um equilíbrio com a remoção de gases da atmosfera.
E, no início da década passada, os países mais ricos prometeram que, em 2020, estariam a mobilizar 100 mil milhões de dólares (86 mil milhões de euros) por ano para ajudarem os países menos desenvolvidos no combate às alterações climáticas.
Mas, a um mês da COP26 — onde os países vão ter de actualizar os seus compromissos, ao abrigo do Acordo de Paris —, o cenário é muito diferente daquele que foi prometido na última década.
Em 2018, na COP24, ficou decidido que o objectivo colectivo dos 100 mil milhões de dólares por ano iria ser reforçado a partir de 2025; mas a União Europeia (o maior financiador público do combate às alterações climáticas) está preocupada com o facto de os compromissos efectivamente assumidos estarem ainda “muito aquém” dos 100 mil milhões de dólares por ano.
"Sobrevivência"
Segundo John Kerry, o plano financeiro para depois de 2025 “deve falar de biliões, e não apenas de milhares de milhões”.
“O sector privado é essencial. Em conjunto com o Fórum Económico Mundial, vamos anunciar uma medida específica sobre o envolvimento do sector privado”, disse Kerry, sem avançar pormenores.
Para tentar recuperar tempo, os EUA e a União Europeia querem que a COP26 seja histórica na “batalha pela sobrevivência da humanidade”, nas palavras do comissário europeu para a Acção Climática, Frans Timmermans.
“Temos um diálogo muito construtivo com a Índia e com a China”, disse Timmermans aos jornalistas, durante a reunião em Itália. “Ambos os países desejam fazer parte do sucesso.”
Questionado sobre a extracção de carvão na China e na Índia (dois dos maiores produtores de carvão no mundo), o comissário europeu disse que a indústria iria acabar por deixar de ser economicamente viável mesmo que não houvesse planos específicos de combate às alterações climáticas.
“Ficaria muito admirado se ainda houver uma indústria do carvão significativa depois de 2040”, disse Timmermans.
O reforço dos compromissos, segundo Kerry, significa também que da COP26 tem de sair a garantia de que o aumento da temperatura acima dos valores pré-industriais fique “muito abaixo” dos dois graus.
“Muito abaixo dos dois graus Celsius significa muito abaixo. O senso comum diz-nos que não estamos a falar de 1,9, 1,8 ou 1,7 graus”, disse o responsável norte-americano. Há um consenso na comunidade científica para que o aumento fique abaixo dos 1,5 graus — o limite a partir do qual as consequências para as populações podem ser dramáticas.
Também este sábado, Kerry anunciou que o Egipto foi escolhido para organizar a COP27 em 2022, depois de o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, ter manifestado o interesse do país na organização.