Fumio Kishida vence eleições no LDP e será o novo primeiro-ministro do Japão

Não era o favorito nas sondagens, mas oferece estabilidade e o cumprimento das metas do establishment político. Kishida, um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, derrotou na segunda volta o imprevisível Taro Kono.

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Fumio Kishida sucede a Yoshihide Suga Reuters/POOL

A corrida pela liderança do Partido Liberal Democrático (LDP) do Japão, e a quase garantida nomeação como novo primeiro-ministro do país até às eleições gerais de Novembro, foi ganha por Fumio Kishida, um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros que não era o favorito nas sondagens mas que reúne as preferências da máquina partidária.

No seu discurso de vitória, esta quarta-feira, Kishida prometeu liderar um partido renovado nas eleições gerais de Novembro, e disse que a sua prioridade será a continuação do combate à pandemia de covid-19. Foram as críticas à gestão da crise que levaram o ainda primeiro-ministro, Yoshihide Suga, a não se recandidatar em Novembro.

No entanto, o novo líder do LDP — que deverá ser confirmado também como novo primeiro-ministro na próxima segunda-feira, numa votação na câmara baixa do parlamento — não conta com o entusiasmo do grande público, e a sua vitória pode significar problemas para o partido nas eleições de 28 de Novembro.

“A eleição para a liderança do LDP acabou. Vamos enfrentar as eleições como um só”, disse Kishida. “A crise nacional continua. Temos de continuar a trabalhar na resposta ao coronavírus com forte determinação, e temos de apresentar um pacote de estímulos à economia”, disse o novo líder do LDP.

Favorito derrotado

Kishida derrotou o favorito nas sondagens, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Taro Kono, que é visto como uma voz independente no LDP. A vitória de Kishida foi garantida numa segunda volta, num duelo com Kono.

As duas mulheres que também se candidataram ao cargo, Sanae Takaichi e Seiko Noda, ficaram-se pela primeira volta da votação.

É quase certo que o vencedor da votação no partido será o novo primeiro-ministro, por causa da maioria do LDP na câmara baixa do parlamento japonês.

“Um mês inteiro de cobertura nas televisões e nos jornais, por causa da corrida para as eleições no partido, não pode ser mau para o LDP. Mas o resultado desanimador irá acalmar o clima de comemoração rapidamente”, disse Koichi Nakano, professor de Ciência Política na Universidade Sophia, citado pela agência Reuters.

“A oposição vai ficar aliviada por não ter de lutar contra o rosto preferido da televisão”, disse Nakano, referindo-se a Taro Kono.

Continuidade

É improvável que a vitória de Kishida desencadeie uma grande mudança nas políticas, numa altura em que o Japão tenta lidar com uma China assertiva e uma economia atingida pela pandemia. Na campanha, Kishida salientou a necessidade de se concentrar na redução das disparidades nos rendimentos.

Kishida defende um reforço das defesas do Japão e o fortalecimento dos laços de segurança com os Estados Unidos da América e outros parceiros, incluindo no âmbito do diálogo Quad (Japão, EUA, Austrália e Índia), enquanto preserva laços económicos vitais com a China e mantém cimeiras regulares com o vizinho.

Especificamente, Kishida quer reforçar a Guarda Costeira do Japão e apoia a aprovação de uma resolução a condenar o tratamento da minoria muçulmana uigur pela China. E quer nomear um assessor para monitorizar a situação dos direitos humanos na região chinesa de Xinjiang.

“Não espero grandes mudanças na política externa”, disse Jeffrey Hornung, analista do think tank RAND Corporation. “Kishida continuará a dar prioridade à aliança e a encontrar maneiras de a fortalecer. Um Indo-Pacífico livre e aberto continuará a ser a base da diplomacia do Japão na região, e ele vai continuar a ter uma posição dura em relação à China.”

Kishida disse também que a consolidação fiscal será um dos principais pilares da sua política e, no passado, expressou dúvidas sobre a política do Banco do Japão, dizendo que os estímulos não podem durar para sempre. Mas, com a economia afectada pela pandemia COVID-19, Kishida mudou de discurso para dizer que o Banco do Japão deve manter os estímulos.

O novo líder do LDP propôs um pacote de gastos de mais de 30 biliões de ienes e disse que o IVA de 10% não deverá subir “por cerca de uma década”. E enfatizou a necessidade de distribuir mais riqueza pelas famílias, em contraste com o foco das políticas de Shinzo Abe de aumentar os lucros das empresas na esperança de que os benefícios chegassem aos trabalhadores.  

“Uma vitória para o establishment. Kishida representa estabilidade e, mais importante, faz o que os tecnocratas lhe dizem para fazer”, disse Jesper Koll, do Monex Group.

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