Há uma cópia da Mona Lisa para redescobrir no Museu do Prado

Exposição em Madrid desvenda até 23 de Janeiro alguns segredos da oficina de Leonardo da Vinci e da relação deste com os seus discípulos, e vice-versa.

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Exposição vai ficar no Prado até 23 de Janeiro Fernando Alvarado/ EPA

Até 2012, o Museu do Prado, em Madrid, tinha nas suas reservas uma pintura algo escura, com o frio número de inventário 504. Era uma das muitas obras que integraram as Colecções Reais, neste caso desde o ano de 1666. Mas tratava-se de… uma cópia da famosa Mona Lisa. Não mais do que isso, pensava-se. Quando o Museu do Louvre revelou em Paris, depois de restaurada, a tela Santa Ana: A última obra-prima de Leonardo da Vinci, o Prado foi também chamado a emprestar aquela sua cópia para a exposição.

Foi nessa altura que os conservadores e investigadores do museu de Madrid revelaram que a sua Mona Lisa era bem mais do que uma das cópias indiferenciadas que ao longo dos séculos foram sendo feitas dos originais dos mestres da pintura. Tratava-se, antes, da mais antiga cópia da obra que Leonardo (1452-1519) tinha criado em 1503; tinha sido pintada na mesma altura por um dos seus discípulos; e provavelmente até em simultâneo e bem próximo do mestre.

Em favor desta tese da equipa de investigadores liderada por Ana González Mozo, técnica superior do Prado, estava a descoberta de que, por baixo do fundo negro que envolvia o rosto da Gioconda, se encontrava, afinal, uma paisagem em tudo idêntica à da obra do Louvre.

Estes e outros dados são o ponto de partida da exposição que o museu de Madrid inaugurou esta terça-feira, intitulada Leonardo e a cópia de Mona Lisa. Novas abordagens sobre o trabalho da oficina do vincino, e que vai ficar patente até 23 de Janeiro.

Com comissariado de Ana González Mozo, o museu apresenta assim a nova exposição: “Tomando como eixo aglutinador a cópia de Mona Lisa e as informações fornecidas pelas imagens científicas recolhidas através das novas tecnologias de análise, o Prado mergulha na personagem menos conhecida de Leonardo como mestre, e também noutros temas do Renascimento: a importância da ideia, o conceito de original, a função e os tipos de cópias e outros derivados dos protótipos criados pelos grandes mestres”.

Investigação em curso

Entre as várias pinturas expostas, encontram-se duas cópias de outros tantos originais de Leonardo: a chamada “versão Ganay” (nome do marquês que foi seu proprietário) do Salvator Mundi, actualmente na posse de um privado; e a da Santa Ana, pertencente ao Hammer Museum, de Los Angeles. E a revelação que a equipa do Prado agora apresenta e defende — mesmo se a investigação sobre essas obras continua em curso — é que o autor destas cópias e o da Mona Lisa será o mesmo discípulo de Leonardo. Andrea Salai, que entrou na oficina do mestre em 1490, e Francesco Melzi, aí chegado por volta de 1506, são os nomes de que normalmente se fala quando se referem os discípulos de Leonardo, mas o Prado mantém-se prudente quanto a essa atribuição, justificando não ter ainda dados para a assegurar.

O que a equipa de Ana González Mozo arrisca dizer é que esta cópia da Mona Lisa terá sido feita na presença, e mesmo em simultâneo com a criação da pintura original. De resto, diz o director do Prado, Miguel Falomir, citado pelo jornal El Mundo, “as cópias, muitas delas consideradas obras importantes desde o século XVI, eram por vezes até mais valorizadas do que os próprios originais”.

Não terá sido este o caso da “Mona Lisa de Madrid”, além de que parece também certo — defende o Prado — que, ao contrário do que muitas vezes aconteceu, avançando algumas linhas ou esquissos, Leonardo não colocou a sua mão nesta cópia, acrescenta Falomir.

“Através desta obra e dos trabalhos da sua oficina, aproximamo-nos do processo criativo de Leonardo, já que o artista da ‘Mona Lisa do Prado’ foi alguém muito próximo dele. Daí os detalhes distintivos da oficina de Leonardo”, disse também Ana González Mozo àquele diário espanhol.

A exposição Leonardo e a cópia de Mona Lisa. Novas abordagens sobre o trabalho da oficina do vincino é acompanhada por um catálogo com ensaios da comissária, de Vincent Delieuvin, historiador de arte francês, curador do Louvre e especialista na obra do mestre renascentista, e do historiador Philippe Walter, também francês.

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