Agência de Energia Atómica diz que Irão impediu inspecção a uma instalação nuclear
Regime iraniano critica agência da ONU e diz que infra-estrutura em causa está fora do âmbito das inspecções que foram acordadas este mês.
O Irão e a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) voltaram a entrar em desacordo por causa das inspecções aos locais de desenvolvimento do programa nuclear iraniano. Israel aumenta a pressão para que a comunidade internacional impeça o regime de Teerão de adquirir armas nucleares.
No domingo, os inspectores da AIEA disseram ter sido impedidos de visitar as instalações de fabrico de centrifugadoras em Karaj, perto de Teerão. O incidente contraria os termos do acordo alcançado este mês entre a agência das Nações Unidas e as autoridades iranianas que haviam voltado a autorizar as visitas aos locais que integram o programa nuclear.
Esse entendimento previa que os inspectores da ONU instalassem novos cartões de memória em câmaras de vigilância nos seus locais atómicos sensíveis. A AIEA disse ser “indispensável” repor os sistemas de supervisão em todas as instalações iranianas previamente acordadas.
Os dirigentes iranianos contestam a posição da AIEA e lançaram críticas à agência. O enviado às negociações, Kazem Gharibabadi, lembrou que as instalações de Karaj foram alvo de uma série de ataques de sabotagem, o último dos quais em Junho, que Teerão acredita terem sido levados a cabo por Israel.
Gharibabadi criticou a AIEA por nada ter dito sobre os ataques “terroristas” e esclareceu que o acordo alcançado há algumas semanas incluía apenas “equipamento identificado”, deixando de fora as instalações de Karaj por se encontrarem ainda sob investigação judicial.
“Qualquer decisão tomada pelo Irão sobre a vigilância dos seus equipamentos é apenas baseada em considerações políticas, e não legais, e a agência não pode, nem deve, considerá-la uma prerrogativa sua”, afirmou Gharibabadi.
O mais recente desentendimento entre a AIEA e o Irão pode tornar mais difícil o caminho para a revitalização do acordo nuclear assinado em 2015 e que pretendia pôr fim às ambições nucleares do regime a troco da remoção de sanções e da normalização diplomática entre Teerão e vários países ocidentais. O tratado, que juntava os EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha, foi rompido em 2018 por Donald Trump e, apesar de se manter formalmente em vigor, perdeu a força.
Muitas das sanções voltaram a ser impostas, estrangulando a economia iraniana, enquanto o regime respondeu com a retoma do desenvolvimento de tecnologia nuclear. Apesar de Teerão insistir que o programa nuclear tem unicamente fins civis, os seus adversários regionais, com destaque para Israel, temem que o desenvolvimento de armamento nuclear pelo Irão possa levar a um novo conflito no Médio Oriente. O perfil do novo Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, menos moderado que o seu antecessor, Hassan Rohani, que negociou o acordo, também traz uma nova camada de incerteza ao futuro do tratado.
O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, acusou o Irão de ter violado “todas as linhas vermelhas” no que respeita ao desenvolvimento nuclear e garantiu que nunca irá permitir que o seu adversário obtenha armas nucleares. “O programa nuclear iraniano atingiu um limiar crucial, assim como a nossa tolerância”, afirmou Bennett durante o seu discurso na Assembleia-Geral da ONU.
O recém-eleito chefe de Governo israelita fez apelos aos seus aliados, nomeadamente ao Presidente dos EUA, Joe Biden, que defende a retoma do acordo nuclear, para que tomem providências para evitar a progressão do programa nuclear iraniano. No entanto, prometeu, igualmente, agir sozinho. “Israel não irá permitir que o Irão adquira armas nucleares”, declarou Bennett.