Vai, vai, vai, disse a ave

Enquanto no Afeganistão — há que insistir na toponímia até se lhe gastarem as sílabas — os talibãs, reciclados ma non troppo, converteram o ministério dos Assuntos Femininos em ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício e, na China, o governo proibiu a presença de homens “efeminados” e mulheres “histéricas” nas televisões do país, numa tomada de posição que só aos menos atentos causará estranheza — uma limpeza, diria Cabrera Infante, homem que nunca virou as costas a uma boa homofonia… — por aqui, pelo monte, as mulheres continuam a vestir calças quando lhes dá na gana e a meteorologia o recomenda, e as opções sexuais de cada um são as de cada um. Basicamente “desde que não o façam na rua nem assustem os cavalos”, para citar o escritor irlandês e assumidamente copofónico Brendan Behan (1923-1964) a quem, aliás, cito de novo: “Não faz sentido falar de homossexualidade como se fosse uma doença. Já vi pessoas com homossexualidade, tal como já vi pessoas com tuberculose, e não há qualquer tipo de semelhança. A minha atitude em relação à homossexualidade é muito semelhante à daquela mulher que, aquando do julgamento de Oscar Wilde, disse que não se importava com o que faziam, desde que não o fizessem na rua e não assustassem os cavalos.” (Nova Iorque, prefácio de Enrique Vila-Matas, Tinta-da-China, 2010).

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