Estudo de investigadores portugueses prevê alargamento para norte de “território” da sardinha

A sardinha-europeia é “particularmente vulnerável à variabilidade climática, por serem organismos cuja temperatura corporal é regulada pela temperatura da água”.

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O projecto SardiTemp, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e por Fundos Europeu de Desenvolvimento Regional Adriano Miranda

Investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE-Ispa) antevêem, num estudo publicado esta quarta-feira, que até ao final do século a sardinha-europeia poderá alargar o seu “território” para norte, em direcção à Noruega e ao mar Branco.

O estudo, publicado na revista Science of the Total Environment, dá conta que a deslocação das populações de sardinha-europeia (Sardina pilchardus) será impulsionada pelo aumento da temperatura da água do mar e pelas suas interacções com a salinidade, as correntes oceânicas e a distância à costa.

“Na última década, os stocks ibéricos desta espécie têm estado em níveis baixos, mas nos últimos dois anos mostraram sinais de recuperação. No entanto, esta espécie é particularmente vulnerável à variabilidade climática, por serem organismos cuja temperatura corporal é regulada pela temperatura da água e por terem elevados requisitos energéticos e metabólicos”, escrevem os investigadores em comunicado sobre o estudo.

O investigador do Mare – Centro das Ciências do Mar e do Ambiente, do Ispa, em Lisboa, e autor principal do estudo André Lima adianta ainda que, “considerando um cenário de alta emissão de gases de efeito de estufa nos nossos modelos”, estima-se que as sardinhas "irão expandir a sua distribuição em aproximadamente 10%, colonizando a costa da Noruega até ao mar Branco — uma vez que essas regiões apresentarão características ambientais favoráveis à espécie em 2100”.

Foi ainda possível, acrescenta o investigador, “identificar que o Norte do Mediterrâneo, a Península Ibérica e as ilhas Canárias se tornarão ambientes ainda mais favoráveis, enquanto boa parte da costa norte-africana e das águas da Irlanda e Reino Unido perderão os requisitos ambientais exigidos pelas sardinhas”.

O coordenador do projecto SardiTemp, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, Gonçalo Silva, sublinha, no mesmo comunicado, que é necessário “interpretar estes resultados com o devido cuidado, porque, apesar de se prever um aumento da área de distribuição dos adultos em cerca de 10%, neste estudo não são abordados aspectos relacionados com a biomassa, áreas de reprodução e de crescimento dos espécimes juvenis, pesca, entre outros factores”.

Para o investigador, a compreensão dos efeitos do aquecimento global “é fundamental para uma gestão sustentável dos stocks ao longo do tempo e para a definição de novas áreas de pesca deste recurso de grande importância cultural e económica na Península Ibérica”.

Este é o segundo artigo realizado no âmbito do projecto SardiTemp, “que tem como objectivo estimar o impacto das alterações climáticas na biologia e ecologia de pequenos peixes pelágicos [de alto mar]”.