Polónia responsabiliza Bielorrússia e Rússia por onda migratória
Novas acusações do Governo polaco ao regime de Lukashenko acontecem depois de as autoridades terem encontrado quatro pessoas mortas e outras oito atoladas e a necessitar de cuidados médicos.
Quatro migrantes foram encontrados mortos no domingo na fronteira bielorrussa, uma semana depois de Varsóvia ter imposto o estado de emergência para fazer frente à chegada de milhares e milhares de pessoas, vindas sobretudo de países do Médio Oriente, que nas últimas semanas têm cruzado a fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, mas também a Letónia e a Lituânia. A UE acredita tratar-se de uma forma de retaliação do regime de Minsk contra as sanções europeias impostas na sequência das eleições presidenciais fraudulentas de Agosto do ano passado.
“Estamos a lidar com uma acção em massa organizada e bem gerida de Minsk e de Moscovo”, afirmou esta segunda-feira o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki. De acordo com o chefe do Governo, que falava a jornalistas em Varsóvia, pelo menos 7000 imigrantes e requerentes de asilo foram localizados na fronteira desde o início de Agosto.
Mateusz Morawiecki notou que ninguém acredita que Alexander Lukashenko esteja a agir sozinho, acrescentando que o líder bielorrusso e os seus “aliados russos” têm trabalhado com “grande determinação” para transportar “dezenas de milhares” de pessoas de países do Médio Oriente e de África para as fronteiras da UE. Imigrantes e requerentes de asilo que estão a ser usados para aplicar “a pressão da imigração ilegal na fronteira externa da UE”, disse ainda.
A meio de Agosto, os países da UE acusaram a Bielorrússia de estar a levar a cabo “um ataque directo” contra a União, dizendo que o regime de Alexander Lukashenko está a “instrumentalizar seres humanos para objectivos políticos”. Na reunião, pedida pela presidência eslovena, os ministros do Interior dos 27 prometeram dar “ajuda adicional” à Lituânia, Letónia e Polónia, enviando “mais peritos assim como equipamento técnico necessário para estes Estados membros, para ajudar a aumentar a capacidade de recepção, pedir à Comissão Europeia mais ajuda financeira e, acima de tudo, fortalecer o controlo da fronteira externa da União Europeia.”
As tensões entre a UE e a Bielorrússia sofreram uma nova escalada depois de a Bielorrússia ter desviado um avião comercial de passageiros que viajava entre duas capitais da União (Atenas e Vilenius), a 23 de Maio, para deter um jornalista da oposição que seguia a bordo.
Ao desvio do avião da transportadora irlandesa Ryanair seguiram-se novas sanções económicas e Lukashenko afirmou que, em retaliação, o seu país suspenderia a cooperação com a UE para deter o fluxo migratório.
Para além dos quatro mortos, os guardas de fronteira polacos encontraram ainda oito migrantes exaustos e presos em terrenos pantanosos noutro ponto da fronteira. Destes, sete tiveram de ser hospitalizados.
A líder da oposição bielorrussa também afirmou esta segunda-feira que Minsk está a usar estes requerentes de asilo “numa vingança contra a Lituânia, a Letónia e a Polónia por terem apoiado as forças democráticas independentes e o movimento para a mudança na Bielorrússia”, acusando o regime de Lukashenko de se estar a comportar de forma “irresponsável e desumana”.
Como muitos opositores e críticos, Sviatlana Tsikhanouskaya foi obrigada a sair do seu país. A opositora fugiu para a Lituânia logo depois de ter reivindicado a vitória contra Lukashenko nas eleições que este venceu oficialmente com 80% dos votos, um resultado que nem a UE nem a maioria dos países ocidentais reconheceram.
Os migrantes são reféns desta situação”, afirmou Tsikhanouskaya, que falava num fórum económico na cidade polaca de Katowice. Tsikhanouskaya encabeçou os apelos aos protestos que durante meses levaram centenas de milhares de bielorrussos a saírem à rua quase diariamente para exigir novas eleições livres e justas, apesar da repressão brutal que enfrentaram.
A Polónia acabou por impor um estado de emergência de 30 dias (que vigora há uma semana) que proíbe os não residentes, incluindo jornalistas, de se deslocarem à área de fronteira - é a primeira vez que o país usa esta medida desde o fim do comunismo, em 1989. Varsóvia enviou igualmente milhares de soldados para a fronteira e começou a construir uma cerca de arame farpado.
A Lituânia já tinha feito o mesmo: em Julho, declarou o estado de emergência e uma semana depois ergueu uma vedação da fronteira, tendo aprovado entretanto a construção de uma barreira de metal de quatro metros com arame farpado.