Primeiro-ministro australiano diz que França sabia que contrato poderia ser cancelado

Macron e Biden vão discutir nos próximos dias a crise diplomática gerada pelo pacto de segurança entre EUA, Austrália e Reino Unido.

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Scott Morrison justificou a quebra do contrato de defesa com França com o "interesse nacional" da Austrália JOEL CARRETT / EPA

O Governo australiano rejeitou as acusações feitas pela França de ter ocultado a sua intenção de se juntar ao pacto de defesa com os EUA e o Reino Unido e de quebrar o contrato para a compra de submarinos militares.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, voltou a justificar a decisão com o “interesse nacional” do país, mas disse que o Governo francês estava ciente da possibilidade de o contrato para a renovação da frota de submarinos poder ser cancelado.

Na semana passada, foi anunciada a criação de um pacto de segurança e cooperação tecnológica no Indo-Pacífico, conhecido como AUKUS, que junta a Austrália, os EUA e o Reino Unido, com o objectivo de conter as ambições geopolíticas chinesas na região. O acordo apanhou o resto do mundo de surpresa, incluindo os aliados militares da NATO, e prevê a partilha de tecnologia para o fabrico de submarinos nucleares entre os EUA e a Austrália – apenas a segunda vez que Washington aceita partilhar tecnologia deste tipo.

Essa possibilidade fechou as portas ao contrato que havia sido discutido nos últimos anos entre o Governo australiano e uma empresa de defesa francesa para a venda de 12 submarinos. O negócio foi avaliado em 31 mil milhões de euros.

Paris reagiu furiosamente ao anúncio, que encarou como uma “facada nas costas”. O diferendo abriu uma crise diplomática sem precedentes entre aliados no pós-Guerra Fria. O Presidente francês, Emmanuel Macron, chamou de urgência os seus embaixadores na Austrália e nos EUA para consultas, algo que nunca tinha acontecido.

O chefe do Governo australiano disse compreender o desapontamento de França, mas rejeitou ter desejado apanhar Paris desprevenido, referindo-se a “preocupações profundas e sérias” sobre o contrato com a empresa francesa. “No fim de contas esta foi uma decisão sobre se os submarinos que estavam a ser fabricados, com grandes custos para o contribuinte australiano, seriam capazes de estar aptos para as funções de que necessitaríamos quando estivessem operacionais, e a nossa avaliação estratégica, tendo por base os melhores conselhos de defesa e informação possíveis, foi de que não estariam”, afirmou Morrison este domingo.

O primeiro-ministro australiano afirmou que o assunto foi abordado directamente por si “há alguns meses” junto de dirigentes franceses.

“Quebra de confiança”

Em França, a perspectiva dominante é a de que o comportamento dos seus aliados foi reprovável. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, disse que houve uma “enorme quebra de confiança” entre França e a Austrália e os EUA.

À saída da Austrália, o embaixador francês Jean-Pierre Thebault manifestou tristeza pelo incidente. “Vi e aprendi como é importante para um australiano quando se compromete a cuidar de alguém. O que me deixa triste é que pensei que éramos amigos e fomos apunhalados nas costas”, disse Thebault ao Guardian Australia já no aeroporto. Tal como o seu homólogo nos EUA, ambos são esperados esta semana em Paris para explicar melhor o que aconteceu.

O Palácio do Eliseu disse que Macron deverá falar directamente com o Presidente norte-americano, Joe Biden, “nos próximos dias”. “Queremos explicações”, afirmou o porta-voz do Governo francês, Gabriel Attal.

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