O último homem “cis” à face da terra
Y: O Último Homem, que se estreia esta quarta-feira no Disney+, adapta a banda desenhada homónima de Brian K. Vaughan e Pia Guerra.
De um dia para o outro, uma boa parte da população mundial morreu. Desapareceram todos homens cisgénero, todos seres à face da terra com um cromossoma Y, excepto um, Yorick, um aspirante a mágico especializado em escapar de situações perigosas, e o seu macaco de estimação. É esta a premissa de Y: O Último Homem, a série FX/Hulu que chega esta quarta-feira à Disney+, uma adaptação da banda desenhada homónima de Brian K. Vaughan e Pia Guerra do início dos anos 2000.
Com Eliza Clark, que trabalhou em séries como Rubicon e Animal Kingdom, aos comandos, é uma série pós-apocalíptica de dez episódios, todos eles realizados por mulheres (incluindo, por exemplo, Cheryl Dunye, figura fundamental do cinema negro lésbico americano dos anos 1990). É uma produção bastante preocupada com as implicações imediatas na política e na organização da sociedade que o desaparecimento de todos os homens cis gera. E sublinhe-se o conceito de “cis”, já que a série quis ter em atenção, ao contrário banda desenhada, alguma diversidade de género, com homens trans como personagens que foram poupadas a este cataclismo – já mulheres trans não. Foi uma viagem complicada: ao longo das décadas, a adaptação primeiro ia ser um filme que mudou várias vezes de realizador, e depois finalmente uma série, também com alterações constantes na equipa e no elenco.
Depois de Barry Keoghan ter abandonado o projecto, Yorick acabou por ser representado por Ben Schnetzer. É dele a personagem mencionada no nome da série, filho de Jennifer Brown (Diane Lane), congressista que, por faltas na cadeia de sucessão, se torna presidente dos Estados Unidos, e irmão de Hero (Olivia Thirlby), uma paramédica. A protegê-lo tem a misteriosa Agente 355 (Ashley Romans). Focado em encontrar a sua namorada, que recusou casar com ele pouco antes do evento ter acontecido, é um herói relutante. É alguém que, diz Schnetzer ao PÚBLICO via Zoom, “está menos preocupado com o impacto global deste evento e mais preocupado com o lado doméstico e pessoal”. “O fardo de ser este espécime científico único é um obstáculo para ele, é algo que ele não quer”, continua, referindo uma deixa da banda desenhada: “Com pouco poder vem pouca responsabilidade”.
Schnetzer não tinha lido a banda desenhada, só tinha ouvido falar nela. “Quando lês material de pesquisa às vezes é tão chato. Isto foi tão excitante e uma emoção constante. Fazer uma adaptação é sempre uma conversa entre os meios, há coisas que funcionam nos painéis de uma novela gráfica que podem não funcionar tão bem no ecrã. Foi divertido navegar o que íamos mudar e o que era importante manter igual”, conta.
Sobre ser o último homem na terra, e o homem que está a falar por uma série que imagina um mundo quase só com mulheres, e o que tudo isto quer dizer, tenta não pensar muito nisso. “Como actor, não podes representar um tema ou um conceito, só situações”, menciona. “Quando estás a adaptar material que te é familiar, tens de deixar de o ver enquanto estás a fazer”, continua. Refere a peça de Shakespeare que tem o Yorick famoso que deu o nome ao dele: “O Hamlet não sabe que é o Hamlet no Hamlet”, remata.