Bolsonaro garante que irá à Assembleia Geral da ONU mesmo sem estar vacinado

Presidente do Brasil diz que só decide se toma a vacina contra a covid-19 quando todos os brasileiros estiverem vacinados. Regras sanitárias de Nova Iorque exigem certificado de vacinação.

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Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil ADRIANO MACHADO/Reuters

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que recusa vacinar-se contra a covid-19, afirmou que participará, ainda assim, na Assembleia Geral das Nações Unidas, na próxima semana, em Nova Iorque, onde deverá ser exigido um certificado de vacinação.

“Estarei na Assembleia Geral da ONU na próxima semana. Darei o discurso de abertura. Um discurso sereno, bastante objectivo, focado nos pontos de interesse para nós”, disse Bolsonaro na quinta-feira (madrugada de sexta-feira em Lisboa), no seu tradicional discurso semanal nas redes sociais, apontando como exemplos a gestão da pandemia no Brasil, os agro-negócios e a energia.

O chefe de Estado brasileiro, infectado com o coronavírus no ano passado, reafirmou também que não vai tomar a vacina, defendendo que já está imunizado.

“Você toma a vacina para quê? Para ter anticorpos, não é isso? A minha taxa de anticorpos está lá em cima”, disse Bolsonaro.

“Para que é que eu vou tomar? Todo mundo já tomou vacina no Brasil? Depois que todo mundo tomar vou decidir meu futuro aí”, acrescentou Presidente, falando ao ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Queiroga, a quem mostrou um documento alegadamente com resultados a um exame médico.

Em resposta, o ministro disse a Bolsonaro: “O senhor precisa se vacinar”.

A participação de Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU foi posta em causa na quarta-feira, quando o novo presidente da Assembleia, Abdulla Shahid, anunciou que todos os participantes devem estar vacinados, citando uma política da cidade de Nova Iorque, que impôs a apresentação de um certificado de vacinação para ter acesso à cimeira.

O comissário da Saúde da cidade, Dave Chokshi, sublinhou que o anfiteatro da Assembleia Geral era “um centro de convenções” sujeito às mesmas regras que a maioria dos espaços de actividade interior em Nova Iorque.

No entanto, horas mais tarde, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que não podia impor essa restrição aos chefes de Estado.

Até ao momento, ainda não ficou claro como é que a regra será aplicada. Os porta-vozes de Shahid e Guterres disseram que as discussões estão em andamento, e o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stephane Dujarric, sugeriu que poderá haver “uma solução aceitável para todos”.

A questão sobre se Bolsonaro será, eventualmente, vacinado ainda é tema de especulação no Brasil, onde a covid-19 já matou mais de 589 mil pessoas. Em números absolutos, o Brasil é o segundo país do mundo com maior número de óbitos, depois dos Estados Unidos.

A vacinação contra a doença no Brasil encontra-se agora num ritmo mais acelerado, após um início lento, o que levou o número de mortes a diminuir significativamente no país.

Reconhecido mundialmente pela sua capacidade de realizar campanhas em massa de imunização em tempo recorde, este país de 213 milhões de habitantes só iniciou a vacinação contra a covid-19 em meados de Janeiro, mais de um mês após a maioria dos países europeus ou da vizinha Argentina.

Quando as vacinas estavam prestes a ser lançadas, no final do ano passado, Jair Bolsonaro foi intransigente, dizendo repetidamente que não se vacinaria, nem obrigaria ninguém a fazê-lo.

“Não vou tomar a vacina, ponto final”, disse o chefe de Estado em Dezembro passado. Já em Abril, afirmou que só decidirá se receberá o antídoto “depois de o último brasileiro ter sido vacinado e se sobrarem vacinas”.

Invocar a liberdade pessoal combina com a sua ampla oposição às restrições impostas por governadores para impedir a propagação do vírus. Bolsonaro, um céptico em relação à gravidade da pandemia e defensor de fármacos sem eficácia contra a doença, continua a declarar que ninguém deve ser impedido de “ir e vir” quando quiser.

Na sua primeira participação na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2019, Bolsonaro protestou contra o socialismo e contra o que descreveu como sensacionalismo da imprensa em relação aos incêndios na Amazónia.

No ano seguinte, num vídeo gravado, Bolsonaro afirmou que o Brasil foi vítima de desinformação ambiental e ressaltou o prejuízo económico causado pelas recomendações de isolamento social face à pandemia.

Este ano, mais de 100 chefes de Estado e 23 ministros planeiam fazer discursos na ONU pessoalmente. Outros líderes falarão por vídeo, a única opção disponível no ano passado.

Por tradição, o líder brasileiro fala em primeiro lugar e é seguido pelo homólogo norte-americano. A Administração de Bolsonaro tem trabalhado para demonstrar a Joe Biden, Presidente dos EUA, o seu compromisso em conter a desflorestação na Amazónia, tema que poderá ser abordado no seu discurso.