Meia hora de autocarro com Moedas e o pára-arranca nas críticas à ciclovia

O candidato percorreu a Almirante Reis na carreira 708 e garantiu que não estava ali para dizer mal da ciclovia. Mas já que perguntam: “Temos de pensar como é que isto se pode reformular.”

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O candidato social-democrata percorreu a Almirante Reis LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O autocarro 708 da Carris está atrasado e Carlos Moedas não dá o tempo por mal gasto. Mete conversa com dois passageiros que também esperam e analisa o Martim Moniz que tem em volta. “Isto precisa de ser muito mais verde, ter uma escala mais humana”, diz o candidato da coligação Novos Tempos à Câmara de Lisboa antes de receber o elogio de uma mulher. “O senhor é mais elegante do que nas fotografias”, atira-lhe.

Elogio puxa elogio e não tarda estão a falar sobre problemas na cidade. “Como é possível que tanta casa tenha fechado? Há muita miséria”, comenta a interlocutora e Moedas acena afirmativamente com a cabeça.

O autocarro lá aparece e põe-se em marcha com dez minutos de atraso, já quase em cima da hora do que vem a seguir. “No boletim de voto somos os últimos”, informa o candidato em jeito de fim de conversa. Daí em diante a sua atenção centra-se na Avenida Almirante Reis, que o veículo vai subindo. Primeiro com rapidez, depois mais vagaroso. Está muito trânsito neste fim de tarde de sexta-feira. Era isto que esperava, Carlos Moedas? “Não foi por nada disso que cá vim”, garante.

Pouco depois, quando o autocarro leva dez minutos de viagem cumprida e ainda só alcançou o Intendente, Moedas acaba por abordar um dos temas quentes da campanha: a ciclovia, por onde o seu adversário Fernando Medina passou de manhã. “Tenho falado com colegas engenheiros para pensar como é que se pode reformular. Quem está a desenhar as ciclovias em Lisboa não sabe desenhá-las. Não se pode prejudicar tanto as pessoas, acho que isto nunca vai funcionar”, opina.

Repor as duas vias de circulação automóvel em cada sentido é ponto assente para o candidato. Quanto à ciclovia, logo se vê se se cria na actual fila de estacionamento – o que implicaria “construir um silo para automóveis” – ou se se coloca em ruas paralelas. Se for eleito, Moedas tenciona pedir uma auditoria ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

A bordo, poucos são os contactos com os restantes passageiros. Ao ver o aparato da caravana e de jornalistas, um deles convence-se de que está na presença de um governante. “Adeus, sr. ministro!”, atira com solenidade. “As pessoas sabem quem é o Carlos Moedas”, dirá o próprio mais tarde ao desembarcar na Praça do Areeiro, 28 minutos depois de ter saído do Martim Moniz. “E as pessoas dizem que vão votar em mim.”

A iniciativa de andar no 708, explica, visa “valorizar os transportes públicos”, que “são essenciais para descarbonizar a cidade” e “têm de ser tendencialmente gratuitos”. O investimento na Carris, sob gestão camarária, “ainda não se sentiu” na vida dos passageiros e as ciclovias têm “graves problemas de planeamento.

O diagnóstico está feito, qual a solução? “Lidar com a transição não é criar fricções. As fricções vão aumentar se continuarmos com decisões de cima para baixo, sem se falar com as pessoas.”

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