Morreu José Besteiro, um chef do Best
José Besteiro, mais conhecido por Joe Best, cozinheiro, consultor e formador na área da gastronomia, morreu aos 55 anos.
Aprendeu os primeiros gestos culinários com a mãe aos oito anos, e tornou-se cozinheiro de profissão na década de 1980. Autodidacta e curioso por tudo o que girava em torno da cozinha, apaixonado pelos sabores, pelo poder criativo da gastronomia e pelos prazeres do convívio à mesa, presença assídua de festivais gastronómicos, chef de eventos privados e consultor, José Besteiro morreu esta quinta-feira à noite, aos 55 anos.
“Amigo do seu amigo”. É esta a frase que repetem todos os que conheciam José Besteiro, o Joe Best, e que ontem receberam com choque a notícia da sua morte. “Não havia pessoa tão verdadeira, tão genuína” como ele, diz à Fugas, numa breve conversa telefónica, o chef Vítor Matos, do Antiqvvm, recordando a sua personalidade alegre, que “enchia uma sala”.
“Bigger than life” é a expressão que ocorre imediatamente a Pedro Cruz Mendes, estudioso de gastronomia e autor do blogue Gastrossexual, onde escreveu várias vezes sobre Joe Best e que recorda o seu percurso desde os tempos em que começou a cozinhar na Costa da Caparica até aos jantares em casa, que atraíam muitos fãs da sua cozinha.
“O Joe Best não precisa nem de apresentações, nem de publicidade. Tem, dentro de si, para além do talento inato para cozinhar, inventar, recriar, uma intuição para o belo, para o bom, e para o bastante, que faz da esmagadora maioria das suas preparações um festim para os olhos, um regalo para o coração, um desmando para os sentidos”, descrevia numa publicação em 2015.
Pedro Mendes, chef do Narcisus Fernandesii, tem o melhor exemplo do que era a amizade de Joe Best: “Quando o meu pai morreu, ele ligou-me a perguntar se eu precisava de um ombro para chorar. Eu agradeci e disse que se precisasse lhe diria. Ele respondeu que já estava à minha porta, a tocar à campainha.”
Era também, sublinha Pedro Mendes, “o rei das redes sociais”, tendo, “muito antes de todos”, percebido o potencial do Twitter e do Facebook para divulgar o seu trabalho e desenvolver a sua personagem, lá está, “bigger than life”. Todos destacam também o seu talento na cozinha, o enorme interesse por aprender tudo, a atenção ao que se estava a passar a nível internacional e a vontade de experimentar.
Foi num programa de rádio difundido a partir da margem sul do Tejo, no final dos anos 1990, durante o qual dava dicas e conselhos de cozinha aos ouvintes, todas as segundas-feiras, que José Besteiro ganhou a alcunha de Joe. Não terá tardado muito para atalhar também o apelido ao meio, apresentando-se profissionalmente desde então como Joe Best.
Começou cedo a cozinhar para outros, na casa de outros, amigos e clientes desconhecidos, e disso começou a fazer carreira no início dos anos 2000. Ainda em Portugal pouco se falava do conceito de chef privado ou de supper clubs e já Joe Best tinha uma empresa especializada neste ramo da gastronomia, DaCozinha, com o serviço Um chef em sua casa, no qual Joe cozinhava em casa dos próprios clientes, assegurando também a compra dos produtos, o serviço de mesa e a limpeza da cozinha. Organizava ainda jantares em sua própria casa e trabalhava em eventos privados e consultoria na área da restauração e gastronomia.
Presença assídua em festivais gastronómicos um pouco por todo o país, Joe Best decidiu aos 44 anos regressar à escola para obter a qualificação profissional que rimasse com a cozinha que já exercia diariamente de forma autodidacta. Há cinco anos, a obra My name is Best, José Besteiro, escrito pelo amigo e jornalista Nuno Dias, firmava em livro os 50 anos do cozinheiro, com uma colecção de memórias, histórias e receitas. Cresceu a jogar à bola nas ruas de Lisboa, onde nasceu, e gostava tanto da banda U2 que “até casou num concerto da banda irlandesa”, lê-se na apresentação do livro, editado pela Âncora Editora.
Se Joe Best optou por se especializar em jantares privados e para grupos e decidiu “abdicar de muita coisa”, explica Pedro Mendes, foi porque queria dar todo o apoio possível aos filhos e garantir que nada lhes faltava. A mulher, Ana, trabalhava com ele nesse projecto DaCozinha, dando-lhe um apoio indispensável. Recentemente, mudaram-se para o Alentejo onde, recorda Vítor Matos, Joe recuperou uma casa antiga. “Foi um gosto acompanhar pelas redes sociais esse projecto a ganhar forma. Vi que o Joe estava à procura de uma vida mais calma”.