Taliban confiscam milhões de dólares de antigos funcionários do Governo afegão
Banco Central do Afeganistão pediu aos afegãos para usarem afghanis, num momento crítico para a economia do país: os bancos e empresas estão a ficar sem dinheiro, especialmente dólares.
O Banco Central do Afeganistão, agora controlado pelos taliban, afirmou ter confiscado na quarta-feira quase 12,4 milhões de dólares (mais de dez milhões de euros) em dinheiro e ouro dos antigos responsáveis do Governo afegão na quarta-feira, incluindo do antigo vice-Presidente afegão, Amrullah Saleh.
O banco afirmou, em comunicado, que o dinheiro e o ouro estavam guardados nas casas dos responsáveis, não sabendo a propósito de quê. Num comunicado separado, o banco apelou aos afegãos para usarem a moeda do país.
Na semana passada, o Banco Central havia emitido uma nota destinado aos bancos locais pedindo-lhes para congelarem as contas dos indivíduos politicamente expostos ligados ao antigo Governo, disseram dois banqueiros, mostrando que os taliban estão a tentar confiscar os bens dos dos membros do Governo deposto, escreve a Reuters.
As declarações coincidem com a crescente preocupação sobre a escassez de dinheiro nos bancos e nas empresas do país, especialmente devido à falta de dólares, amplamente utilizados nas transacções quotidianas.
Três fontes próximas do mercado financeiro afegão alertaram, em declarações à Reuters, referindo o risco de os bancos fecharem as portas caso o Governo dos taliban não disponibilizem fundos brevemente.
Apesar de o líder do banco central escolhido pelos taliban, Mohammad Idris, ter garantido na quarta-feira que os bancos afegãos estão “em boas condições”, estes já reduziram os serviços e impuseram limites semanais de levantamentos de 200 dólares. Isto numa altura em que os afegãos se esforçam por retirar as suas poupanças das instituições bancárias, com longas filas de pessoas ansiosas para conseguir obter dólares.
A medida tem causado indignação generalizada, de particulares e empresas - estas dizem que 200 dólares não são suficientes para pagar aos empregados ou cobrir despesas.
“As nossas empresas estão à beira do colapso”, disse Seraj Ahmady, que gere um café na baixa de Cabul, citado pela Bloomberg. “Já despedi algum pessoal e poderemos ter de fechar em breve a nossa loja de cinco anos”, reconheceu.
Também o Banco Internacional do Afeganistão, o maior banco do país em activos, parou as transferências internacionais a pedido do banco central, disse Serajuddin, um funcionário do banco. O banco também passou a restringir os movimentos online a mil dólares, quando antes eram 3 mil dólares.
As restrições do Banco Central, cujas reservas estrangeiras foram congeladas depois da chegada ao poder dos taliban, também podem dificultar os esforços da comunidade internacional para apoiar os afegãos.
Exército taliban
Entretanto, o chefe do Estado Maior dos taliban, Qari Fasihuddin, confirmou estarem a decorrer “conversações” para a formação de um novo Exército no Afeganistão, um mês depois de os insurgentes terem reconquistado o país.
Numa intervenção pública em Cabul, avançada pelo portal noticioso afegão Nunn, citado pela Europa Press, o responsável taliban detalhou que as “conversações” também incluíram outros funcionários do grupo e que o objectivo é criar um Exército “forte” e “bem organizado” que seja capaz de “defender” o país.
Neste sentido, deixou o avisou que não é permitido a nenhuma pessoa “perturbar a segurança e estabilidade do Afeganistão” e que qualquer indivíduo que “atente contra a segurança pública” referindo conceitos como “resistência, etnia e defesa de 20 anos de conquistas ou democracia” será reprimida.