Primeiro-ministro do Haiti demite procurador que o implicou na morte do Presidente

A destituição do procurador seguiu-se ao pedido para acusar formalmente o primeiro-ministro haitiano, que terá falado com um dos principais suspeitos do assassinato de Jovenel Moïse horas antes da sua morte.

Foto
Ariel Henry foi nomeado para primeiro-ministro dias antes da morte do Presidente numa tentativa de reduzir a tensão política STRINGER/Reuters

Numa nova reviravolta na investigação da morte do Presidente do Haiti, o Ministério Público de Port-au-Prince pediu ao juiz encarregado do caso do assassinato de Jovenel Moïse para acusar formalmente o primeiro-ministro, Ariel Henry, por estar envolvido no ataque. Em troca, o chefe do executivo substituiu o comissário do Governo que pediu a acusação de Henry,​ segundo o porta-voz do primeiro-ministro.

O comissário do Governo de Port-au-Prince – o equivalente a procurador do Ministério Público –, Bed-Ford Claude, disse ter registos telefónicos de duas conversas que Henry terá tido com um homem suspeito de ser o cérebro que orquestrou o assassinato de Moïse.

O suspeito é Joseph Félix Badio, antigo membro da unidade de combate à corrupção, e dependente do Ministério da Justiça, que terá sido geolocalizado no bairro, perto da residência particular de Jovenel Moïse, durante chamadas feitas a Ariel Henry às 4.03 horas e depois às 4.20 horas na noite do ataque. Henry já tinha defendido publicamente Badio, que está agora a monte.

Na semana passada, Claude pediu a Ariel Henry para discutir o caso. O primeiro-ministro não respondeu às alegações e condenou as iniciativas do procurador, que descreveu como “manobras de diversão”.

Na terça-feira, Claude escreveu a um juiz que acompanhava a investigação para acusar Henry como suspeito, garantindo existirem “suficientes elementos comprometedores para (...) pedir a sua acusação formal”​. Também pediu à autoridade da emigração do país que proibisse o primeiro-ministro de sair do país.

Henry retaliou e no final de terça-feira surgiu uma carta, datada de 13 de Setembro, onde o primeiro-ministro escreveu para Claude para dar conta da sua destituição por um “erro administrativo grave”, sem entrar em detalhes. Numa carta separada de 14 de Setembro, Henry nomeou Frantz Louis Juste para a posição.

Contudo, não é claro se a ordem do primeiro-ministro é válida, uma vez que, segundo a Constituição do Haiti de 1987, o procurador só pode ser nomeado ou demitido pelo Presidente, cargo que ainda continua por preencher.

Jovenel Moïse foi morto a 7 de Julho depois de um grupo de mercenários ter invadido a sua residência em Port-au-Prince. A actual investigação sobre o assassinato levou à detenção de dezenas de suspeitos, incluindo cidadãos dos EUA e da Colômbia. A morte de Moïse apenas intensificou a crise institucional e política do país, à qual se seguiu um rasto de destruição provocado por um sismo que vitimou mais de duas mil pessoas.

Ariel Henry tinha sido nomeado para primeiro-ministro dias antes da morte do Presidente numa tentativa de reduzir a tensão política. 

No sábado, Henry anunciou que as principais forças políticas do Haiti chegaram a um acordo para estabelecer um Governo de transição até à realização das eleições presidenciais e do referendo sobre a possível adopção de uma nova Constituição no próximo ano. O acordo estabeleceu ainda um Conselho de Ministros sob a liderança de Henry.

Sugerir correcção
Comentar