Coreia do Norte testou vários mísseis de cruzeiro no fim-de-semana
EUA e Japão condenaram o teste, mas as Nações Unidas não os proíbem. Pyongyang diz que os mísseis têm capacidade nuclear.
A Coreia do Norte disse ter testado vários mísseis de cruzeiro de longo alcance com capacidade nuclear durante o fim-de-semana. Os testes foram condenados pelos seus vizinhos e pelos EUA, mas não violam as resoluções das Nações Unidas.
Os testes decorreram entre sábado e domingo, disse a agência estatal norte-coreana KCNA, explicando tratar-se de um novo tipo de mísseis de cruzeiro que atinge alvos a 1500 quilómetros de distância, tendo caído nas águas territoriais do país. A agência sublinhou o “grande significado” destes ensaios e descreveu os mísseis como “armamento estratégico” – uma expressão que sugere a capacidade para transportarem ogivas nucleares. Foram divulgadas imagens dos mísseis pelo jornal oficial do regime, o Rodong Sinmun.
O analista Ankit Panda disse à Reuters que “este é o primeiro míssil de cruzeiro da Coreia do Norte a ser designado explicitamente pelo seu papel ‘estratégico’”. “Este é um eufemismo específico para um sistema com capacidade nuclear”, explicou.
A comunidade científica tem dúvidas acerca da capacidade da Coreia do Norte em conseguir desenvolver a tecnologia necessária para miniaturizar ogivas nucleares que permita a sua aplicação num míssil. Porém, como escreve a correspondente da BBC em Seul, Laura Bicker, “dada a quantidade de avanços que o Estado isolado tem feito até agora, ninguém iria apostar contra isso”.
As resoluções do Conselho de Segurança da ONU não proíbem a Coreia do Norte de testar mísseis de cruzeiro, apenas mísseis balísticos, por considerá-los mais perigosos e capazes de atingir distâncias mais longas.
O último teste de armamento do qual se tem conhecimento na Coreia do Norte aconteceu em Março, quando o regime lançou dois mísseis balísticos de curto alcance. Em Janeiro, pouco depois da tomada de posse de Joe Biden, também havia lançado um míssil de cruzeiro.
Na semana passada, houve um desfile militar em Pyongyang para assinalar o 73.º aniversário da fundação do país, mas não foram expostos mísseis de grande porte. Em Agosto, a Agência Internacional para a Energia Atómica disse ter encontrado sinais de que o principal reactor nuclear norte-coreano retomou a actividade.
O novo teste norte-coreano foi condenado pelos vizinhos do país e pelos EUA. O Comando Norte-Americano do Indo-Pacífico disse que o lançamento do míssil “sublinha a atenção continuada da Coreia do Norte ao desenvolvimento do seu programa militar e a ameaça que representa para os seus vizinhos e para a comunidade internacional”. Os EUA também reforçaram a manutenção “férrea” do compromisso com a defesa dos seus aliados na região: Coreia do Sul e Japão.
O Governo japonês manifestou “preocupação significativa” com o novo teste norte-coreano e disse estar a trabalhar com outros países da região para supervisionar novos desenvolvimentos.
Seul optou por ser mais cautelosa na avaliação, dizendo estar a analisar a situação e rejeitou confirmar qualquer detalhe sobre o teste, incluindo a localização ou se este foi detectado previamente, diz a agência estatal Yonhap. Dirigentes sul-coreanos, japoneses e norte-americanos têm reuniões marcadas esta semana para discutir o programa nuclear norte-coreano.
Pyongyang tem subido o tom contra os EUA desde que Joe Biden chegou à Casa Branca e o teste deste fim-de-semana – que coincidiu com o vigésimo aniversário dos atentados de 11 de Setembro – mostra que o regime continua empenhado no desenvolvimento de armamento. A Coreia do Norte e os EUA estão envolvidos em negociações diplomáticas, mas os progressos nos últimos tempos têm sido reduzidos.
Ainda assim, o regime continua a respeitar a moratória autoimposta aos testes nucleares, que vigora desde 2017.
O objectivo da Coreia do Norte é mostrar que, apesar das sanções e do efeito que a crise pandémica tem tido sobre o país, que enfrenta escassez de alimentos, continua a ser capaz de investir na sua defesa. O desenvolvimento do programa nuclear, na óptica de Pyongyang, é também um poderoso factor dissuasor perante possíveis intervenções externas.