Militares da Guiné-Conacri convocam antigos ministros e exigem libertação de “presos políticos”
O líder do golpe militar confirmou à France 24 que o Presidente está com os militares, garantindo que “está num local seguro” e que tem acesso a cuidados de saúde.
Os soldados que destituíram no domingo o Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, convocaram esta segunda-feira uma reunião com os ministros e responsáveis do Governo, alertando que não comparecer seria encarado como um acto de rebelião contra a junta militar. O líder do golpe confirmou que o Presidente está com os militares, garantindo que “está num local seguro”.
Depois de instaurar a ordem militar pela primeira vez em mais de uma década no país da África Ocidental, foi imposto um recolher nocturno obrigatório e tanto a Constituição, como a Assembleia, foram dissolvidas. A junta disse que os governadores provinciais da Guiné vão ser substituídos por comandantes regionais. E, no encontro, os membros do antigo Governo ficaram proibidos de viajar até surgirem novas informações.
O líder do golpe militar, o antigo membro da legião francesa e tenente-coronel Mamady Doumbouya, explicou nesta segunda-feira às forças de segurança do país que “chegou o momento de nos reconciliarmos com o nosso povo, a quem devemos o nosso serviço”, disse num comunicado. “É tempo de inspirar confiança, segurança e protecção no povo, não [de inspirar] medo ou desconfiança”, continuou, segundo o texto a que o site Vision Guinee teve acesso.
Em declarações à France 24, Doumbouya reiterou que a sua intenção não é “brincar com o poder”, mas “aprender com os erros que foram cometidos”. Sobre a detenção do Presidente, disse que estava com os militares, garantindo que “está num local seguro” e que teve acesso a cuidados de saúde.
Ao mesmo tempo, os militares ordenaram a libertação dos “presos políticos de todos os grupos”. A Frente Nacional para a Defesa da Constituição, que engloba as forças políticas contra um terceiro mandato de Condé, afirmaram num comunicado que entre os detidos a libertar destaca-se o activista Oumar Sylla, conhecido como Foniké Menguè – condenado a onze meses de prisão por “apelar a uma concentração desarmada” –, Étienne Soropgui, Abdoulaye Bah, entre outros opositores.
Enquanto isso, um porta-voz do Exército também avançou que as fronteiras foram abertas. E na zona de Kaloum, em Conacri, o trânsito começou a normalizar-se e algumas lojas reabriram, depois da troca de tiros de domingo que levou à reivindicação do poder pelos militares.
A tentativa de golpe de Estado tem o objectivo de pôr fim “à má gestão financeira, à pobreza e à corrupção endémica”, e ainda “à instrumentalização da justiça [e] ao atropelo dos direitos dos cidadãos”, nas palavras de Doumbouya.
A indignação contra o Presidente – no poder desde 2010 – atingiu um pico no ano passado, depois de o chefe de Estado ter convocado um referendo para alterar a constituição para concorrer a um terceiro mandato. A medida foi considerada inconstitucional pela oposição, gerando meses de tensão e dezenas de mortes. As eleições, que venceu, foram precedidas pela detenção de dezenas de opositores.
A condenação internacional não tardou em chegar e, além do secretário-geral da ONU, António Guterres, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana e a França também exigiram a libertação “imediata” e “incondicional” do Presidente da Guiné-Conacri.
O Departamento do Estado dos EUA também alertou que a violência e medidas que vão para além da constituição podem arruinar as possibilidades de estabilidade e prosperidades no país, “limitando a capacidade dos EUA e de outros parceiros internacionais da Guiné-Conacri de ajudar o país”, refere o comunicado.