Jean-Paul Belmondo, o ás dos ases
Tendo sido único, o actor francês, um dos últimos representantes de um tempo em que o cinema europeu era verdadeiramente popular, foi vários. A nouvelle vague, movimento de que permanece indissociável, representou apenas uma das suas múltiplas e contraditórias deflagrações.
Quantos Belmondos havia em Jean-Paul Belmondo? Quantos mundos, uns mais “bel” do que outros, percorreu ele? Ele, que Jean-Luc Godard, no Pedro, o Louco (1965), pôs a dizer qualquer coisa como “gostava de ser único, tenho a sensação de ser vários”, foi, de facto, vários. E agora, na hora da sua morte, dá a sensação de que toda a gente se despede de um Belmondo diferente – coisa que também tem a ver com aquilo que já não há no cinema europeu, estrelas deste gabarito, cuja aura integra a história de um tempo em que o cinema europeu (e as suas estrelas) podiam representar alguma coisa para toda a gente. Morto Belmondo, desse tempo e dessa história só sobra, possivelmente, Alain Delon, o boxeur solitário (embora, conste, tenha sido muitas vezes clown na vida privada) para o clown de Belmondo (embora, saiba-se, tenha sido ele quem realmente foi boxeur na vida privada). Podem ver-se os dois juntos em Borsalino (Jacques Deray, 1970), um dos mais famosos “policiais” do tempo em que o cinema francês, extinta a nouvelle vague, redescobria ou tentava redescobrir o cinema de género.
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