Primeiro-ministro do Japão afasta-se da corrida à liderança do partido do Governo

O apoio a Yoshihide Suga tem vindo a cair por causa da gestão da pandemia, nomeadamente a decisão de prosseguir com a realização dos Jogos Olímpicos numa altura em que o número de casos estava a aumentar.

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O primeiro-ministro japonês fala com os jornalistas na residência oficial do chefe do Governo do Japão, em Tóquio JIJI PRESS/EPA

O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, anunciou que não irá concorrer às eleições deste mês para a liderança do seu partido, marcando o início do fim do seu mandato enquanto líder do Governo, menos de um ano depois de ter assumido funções. O anúncio de Suga surge entre críticas e descontentamento sobre a gestão da situação sanitária.

“A batalha contra o coronavírus consome uma grande quantidade de energia e não sinto ser possível continuá-la e lutar nas próximas eleições para a liderança do partido”, disse Suga num breve encontro com os jornalistas. Suga escolheu focar-se “na resposta ao coronavírus”, acrescentou.

A decisão do primeiro-ministro foi recebida com alguma surpresa, uma vez que, nos dias anteriores, Suga parecia querer salvar a sua liderança. Teria mesmo decidido substituir o secretário-geral do Partido Liberal Democrático (PLD), ponderou dissolver o Parlamento e alterar o executivo do seu partido e do seu gabinete.

O apoio ao Governo de Suga tem vindo a cair – as sondagens mostram níveis de aceitação a rondar os 25% – na proporção inversa do crescimento dos casos de SARS-CoV-2, mesmo depois de terem sido impostos consecutivos estados de emergência.

O país já registou quase 16 mil mortes desde o início da pandemia e uma lenta evolução do processo de vacinação. Acresce a indignação da população face aos Jogos Olímpicos, depois de terem sido adiados, no ano passado, e concretizados apesar do agravamento da situação sanitária.

Com o PLD a realizar eleições para escolher o seu líder a 29 de Setembro, era esperado que Suga se recandidatasse à posição. Quem sair vencedor deverá ser o próximo líder do executivo do Japão, uma vez que o PLD tem uma maioria parlamentar. Também estão previstas eleições gerais para este ano, possivelmente a 17 de Outubro.

Não há, para já, claros favoritos, mas o ministro encarregue da vacinação, Taro Kono, já disse que quer concorrer, segundo a emissora TBS. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Fumio Kishida, também terá demonstrado a sua intenção em concorrer.

O PLD governa quase continuamente o Japão desde 1955, excepto nos anos entre 2009 e 2012 e entre 1993 e 1994. Apesar de não se esperar que venha a perder a maioria, as previsões sugerem que possa perder a maioria que segura sozinho, um resultado que poderia fragilizar a próxima liderança.

Enquanto isso, no mercado financeiro também se sentiram os impactos do anúncio de Suga. As acções japonesas subiram significativamente, com o indicador Topix a fechar com 1,6% após atingir o seu nível mais elevado em três décadas. 

Suga subiu ao cargo há menos de um ano, depois de ser chefe de gabinete e ministro porta-voz do Governo do antecessor Shinzo Abe, que se retirou por motivos de saúde. Filho de um agricultor de morangos e de uma professora, foi criado na zona rural de Akita, no Norte do Japão. Conseguiu entrar para a universidade depois de se mudar para Tóquio. Em 1987 foi eleito para o primeiro cargo enquanto membro da assembleia municipal de Yokohama e em 1996 ganhou um lugar no Parlamento.

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