Morreu Pedro Efe, o operário do cinema português
Foi o “homem dos sete ofícios” numa carreira de mais de meio século. Tinha 78 anos.
Pedro Efe, que durante mais de meio século foi uma presença recorrente no cinema português (e no cinema feito em Portugal), tanto atrás como à frente das câmaras, morreu na terça-feira, aos 78 anos. A notícia foi partilhada no Facebook pela Academia Portuguesa de Cinema (APC), de que Pedro Efe era membro honorário. A causa da morte não foi revelada, mas a Academia adiantou que o funeral se realizaria na manhã de quinta-feira, pelas 11h30, na Igreja do Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
“Um verdadeiro ‘homem dos sete ofícios’, Pedro Efe trabalhou nas mais diversas áreas cinematográficas: foi assistente de fotografia, assistente de produção, grupista, operador de steadycam, [realizador e produtor] de documentários e de filmes institucionais, e também intérprete em vários filmes”, realça a APC.
Desde a sua primeira aparição na comédia Um Campista em Apuros (1967), de Herlander Peyroteo – ao lado de actores como Florbela Queiroz, João Lourenço, Nicolau Breyner e Mirita Casimiro –, até O Grande Circo Místico (2018), do brasileiro Carlos Diegues, Pedro Efe participou em perto de meia centena de co-produções audiovisuais. Foi nelas sempre “inteiro, maciço”, como escreveu o crítico Jorge Leitão Ramos no seu Dicionário do Cinema Português (edição Caminho), onde também nota que o actor “pode ter qualquer coisa de ameaçador e muitas vezes foi usado nessa condição”, por exemplo no violador de Laços de Sangue (Pál Erdoss, 1994) ou no sinistro mafioso da série televisiva O Crime… (José Carlos de Oliveira, 2001).
Além de técnico, assistente ou simples operador de câmara, Pedro Andrade Efe – nascido em Barbacena, concelho de Elvas, a 7 de Novembro de 1942 – foi várias vezes polícia e outras tantas vilão. Como polícia, fica principalmente na memória o seu trabalho como cabo Barroca, “rijo por fora, mas com a alma doce”, realça Jorge Leitão Ramos, ao lado de Raul Solnado, em Balada da Praia dos Cães (1987), que José Fonseca e Costa realizou a partir do romance homónimo de José Cardoso Pires.
Outro exemplo forte da sua dedicação à arte do cinema é a curta-metragem de Jorge Paixão da Costa Quatro Vezes Quatro – O Triunfo da Forma (2000), que o próprio Pedro Efe produziu, e que interpretou ao lado de Alexandra Lencastre.
Aqui ficam alguns títulos a que este actor para todo o serviço deu o seu corpo: O Cerco (1970), de António da Cunha Telles; O Passado e o Presente (1972), de Manoel de Oliveira; Kilas, O Mau da Fita (1980), de José Fonseca e Costa; A Estrangeira (1982), de João Mário Grilo; A Cidade Branca (1983), de Alain Tanner; O Bobo (1987), de José Álvaro de Morais; Rosa Negra (1992), de Margarida Gil; A Casa dos Espíritos (1993), de Bille August; Elas (1997), de Luís Galvão Teles; Mal (1999), de Alberto Seixas Santos; Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros, 4 Copas (2008), de Manuel Mozos; e Amor Impossível (2015), de António-Pedro Vasconcelos.