Já com os índices de vitamina D reestabelecidos e em modo depressão pós-férias, aproveito a calmaria de Agosto para pôr as notícias em dia. Os aliados ocidentais decidiram fazer uma transição de poder para os taliban com a mesma subtileza que a direcção do Benfica. Chegam-nos imagens drásticas de ex-colaboradores militares afegãos desesperados a correr à volta de aviões sobrelotados em retirada e remetem-me para a última vez que tentei viajar com a Vueling. O ministro dos Negócios Estrangeiros inglês foi apanhado, literalmente, com os calções de banho na mão mas, pelos vistos, a situação não era angustiante o suficiente para decidir encurtar as suas férias e fazer uns telefonemas para proteger os milhares de tradutores que contribuíram para mais uma intervenção militar de sucesso.
A influência geopolítica britânica decresce ao mesmo ritmo que o número de camionistas, com transportadoras a oferecer bónus quase tão altos como na banca de investimento num esforço desesperado para atrair mão-de-obra. A disrupção nas redes de abastecimento é tanta que o McDonalds, Nandos e afins já sentem dificuldades em continuar a sua missão de entupir as coronárias da população, revelando o primeiro benefício concreto do “Brexit”. Já se lançam os primeiros avisos de que vamos todos ter um Natal à Charles Dickens. Deixemos a eficiência do mercado trabalhar. É só uma questão de tempo até que os nativos se agarrem às centenas de milhares de vagas abertas na restauração, agricultura, transportes, saúde, serviços, assistência social e afins e o Reino Unido se torne o primeiro país democrático sem desemprego.
Passeando pelas ruas deparo-me com algo que há muito não avistava: as expressões tensas e raivosas dos londrinos desmascarados nos transportes públicos em viagens pendulares do rame-rame casa-trabalho diário. Os pubs e restaurantes estão cheios, as discotecas abertas, vale tudo menos arrancar olhos. Concluímos, portanto, que a pandemia deve ter acabado. No entanto, ouço um burburinho nos confins das últimas páginas dos jornais: o sistema nacional de saúde prepara-se para um cocktail explosivo de gripe, imunidade ao coronavírus em declínio, listas de espera e falta de enfermeiros. Fala-se até da necessidade de voluntários para colmatar as dezenas de milhares de vagas para trabalhar em lares. Já estão as minhas prendas de Natal despachadas: este ano vai tudo corrido a vales-experiência (“uma semana a trabalhar muito e a receber pouco para colmatar as falhas da falta de investimento sistematizado em serviços públicos”). Avizinha-se um período festivo tão esplendoroso como os invernos russos de 1812 e 1941.
A Natureza está a sarar e as coisas a voltar ao normal, com a Extinction Rebellion a voltar aos protestos numa tentativa desesperada para alertar a opinião pública para a catástrofe que se avizinha. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas diz que o planeta está a aquecer mais e mais depressa do que se previa graças à contribuição da actividade humana nos últimos 200 anos. A subida de temperatura vai levar à seca, desastres naturais e aumento do nível do mar, causando bastante sofrimento pelo planeta fora e servindo-nos com quantidades de refugiados climáticos tais que vão fazer com que a crise de emigração da Síria pareça um mero aperitivo. No entanto, nem tudo são más notícias! A transformação das ilhas de sua majestade no novo Caribe certamente levará à redução drástica da pegada ecológica dos milhões de turistas que vão deixar de necessitar de activar a melanina no estrangeiro, fazendo contraponto suficiente para reverter a situação. Por falar em sua majestade, o Governo pede que façamos todos um esforço hercúleo para entrar em 2050 com zero de emissões de dióxido de carbono. Todos? Não! Uma instituição anacrónica e irredutível abusa da sua influência e privilégio para manter o status quo e resistir submeter-se aos sacrifícios que o Zé bifinho tem que fazer.
Quem diria, em Janeiro, que a evolução das variantes do novo coronavírus fosse a feel good story of the year?