Merkel entra na campanha para sublinhar diferenças em relação a Scholz

As sondagens dão vantagem ao Partido Social-Democrata, mas ainda muito pode mudar até 26 de Setembro: há 40% de indecisos.

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Angela Merkel falou das diferenças numa conferência de imprensa em Berlim Reuters

A chanceler alemã entrou na campanha eleitoral: Angela Merkel veio sublinhar que é diferente de Olaf Scholz. Isto poderia parecer estranho, já que os dois são de partidos diferentes, embora estejam na mesma coligação. Mas cada vez mais, Scholz, que já era visto como a versão de Merkel no SPD, ou seja, centrista, ponderado, a figura segura que não desperta entusiasmos, mas também não erra por precipitação, parece estar a beneficiar do bónus eleitoral de estar no Governo, quando esta é a primeira eleição em que quem ocupa a chancelaria decidiu não concorrer.

A entrada de Merkel na campanha pode ser um sinal do crescente nervosismo entre os democratas-cristãos da União (CDU/CSU) com os valores nas sondagens, que dia após dia vão mostrando uma queda que já chegou aos 20%, o valor mais baixo de sempre que o partido registou numa sondagem – uma descida de dez pontos percentuais no espaço de poucas semanas que os analistas têm dificuldade em explicar.

Porque quem se esperava que beneficiasse da queda da CDU, que começou depois das cheias em Julho, eram os Verdes: num desastre que tem na raiz a crise climática, os ecologistas estariam na linha da frente para beneficiar.

Mas não foi isso que aconteceu: quem está a crescer é o centro-esquerda, encabeçado pelo ministro das Finanças, Olaf Scholz, que de repente ultrapassou a CDU/CSU.

Vários analistas avisam, no entanto, que o regresso à média é uma força poderosa, e que há um grande número de eleitores indecisos – são 40% os que ainda não sabem em quem vão votar a 26 de Setembro, segundo apontou Yvonne Schroth, do instituto FGW (Forschungsgruppe Wahlen).

Scholz, “um conservador emprestado ao SPD”, como o descreve o diário La Repubblica, fez um processo de “merkelização”, na palavra da revista Der Spiegel (que é de Hamburgo, tal como Scholz), apresentando-se como o candidato da continuidade. No debate realizado entre os três candidatos a chanceler no domingo, Scholz referiu-se a decisões do Governo com as palavras “a chanceler e eu”.

A grande ameaça para Scholz neste momento parece ser a opção de uma coligação Vermelho-Vermelho-Verde, ou seja, entre o SPD, os Verdes e o partido de esquerda radical Die Linke.

“Comigo como chanceler nunca haveria uma coligação em que estivesse envolvido Die Linke [A Esquerda], e se essa posição é partilhada ou não com Olaf Scholz ainda está em aberto”, declarou Angela Merkel. “Nesse contexto, há simplesmente uma grande diferença para o futuro da Alemanha entre mim e ele.”

Questionado sobre esta hipótese no debate, Scholz disse que seria muito pouco provável, mas recusou afastar a hipótese, dizendo que se trataria de uma questão de princípios a que o partido teria de aderir (ou abraçar com entusiasmo). Armin Laschet, o candidato da CDU, aproveitou e pressionou para que Scholz excluísse a hipótese, mas Scholz manteve que se trataria de uma adesão a princípios.

Scholz é visto como o candidato do SPD que menos favoreceria uma coligação deste género, já que é muito mais centrista. Mas há quem defenda que por isso mesmo, seria o político que mais provavelmente a conseguiria. Muitos analistas vêem no entanto esta decisão de não negar esta coligação como um modo de ganhar peso em negociações – se houver uma alternativa, o partido pode exigir mais.

A linha de ataque contra Scholz deverá ser agora esta, já que Die Linke, neste momento com valores nas sondagens entre os 6 e os 8%, é visto como um partido demasiado radical por muitos.

Outras hipóteses de coligação lideradas pelo SPD incluem a chamada coligação semáforo, com os Verdes e os Liberais, que estão também com uma ligeira subida e entre 10 e 13% nas sondagens. Mas Christian Lindner, o líder do Partido Liberal Democrata (FDP) também disse esta terça-feira que esta coligação era “teórica” e que lhe falta “imaginação” para propostas que lhe poderiam ser feitas por Olaf Scholz e Annalena Baerbock para um governo. “Não queremos viragens à esquerda com mais burocracia, mais impostos, mais subvenções”, declarou.

Linder espera assim posicionar-se como a escolha dos eleitores que queiram uma “coligação Jamaica”, entre CDU/CSU, Verdes e liberais – embora as sondagens digam que esta é uma das menos preferidas.

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