Morreu Sonny Chiba, estrela japonesa que o culto de Tarantino espalhou pelo mundo

Mestre de artes marciais e prolífico actor japonês, foi com o Hattori Hanzo de Kill Bill que ganhou fama internacional. Morreu de covid-19 aos 82 anos.

Foto
Chiba como Hattori Hanzo em "Kill Bill" DR

A estrela de acção japonesa Shinichi “Sonny” Chiba morreu na quinta-feira devido a complicações causadas pela covid-19, noticiou a estação pública japonesa NHK. O actor, mestre das artes marciais e nome reconhecido pelo uso da disciplina no cinema, estava internado. Se a sua carreira na Ásia foi longa e cheia de êxitos, o cinema mundial passou a reconhecer mais o seu nome depois de Quentin Tarantino, seu admirador, o ter escolhido para ser o fabricante de espadas Hattori Hanzo nos filmes Kill Bill. Muitas outras estrelas de acção admiram até hoje o seu estilo.

Chiba tinha 82 anos, estava internado desde dia 8 e, segundo os seus representantes, não tinha sido vacinado contra a covid-19.

Durante mais de cinco décadas, preencheu o imaginário das lutas e das cenas de acção do cinema e televisão japonesas, tendo passado do papel de actor para o de coreógrafo de artes marciais quando a idade não lhe permitia fazer tantos dos golpes que o distinguiram. Rosto e corpo conhecido do público japonês desde a década de 1960, era cinturão negro de karate desde 1965 e obteria depois o grau máximo de atleta de outras artes marciais como o ninjutsu, o shorinji kempo, o judo, o kendo ou o goju-ryu karate, como elenca a revista norte-americana Variety.

Os fãs do género conheciam o seu nome e o seu talento sobretudo desde 1974, quando protagonizou The Street Fighter, de Shigehiro Ozawa, que foi distribuído fora do Japão com grande sucesso, chegando ao público americano e europeu, e que originou uma trilogia e um spin off no feminino. Conta com mais de cem filmes no seu currículo, tendo sido colaborador regular do realizador Kinji Fukasaku.

O público mais alargado a nível internacional reconhece-o depois como o mestre fabricante de espadas de Kill Bill (2003) e Kill Bill: Volume 2 (2004), Hattori Hanzo, que contracena com Uma Thurman quando esta o procura para obter a espada perfeita para a sua vingança. Quentin Tarantino, o ex-funcionário de um clube de vídeo tornado respigador cinematográfico dos vários géneros de culto, já tinha posto na boca da personagem de Christian Slater em Amor à Queima-Roupa (1993), cujo guião assinou para Tony Scott realizar, a certeza de que Chiba era, “sem excepção, o melhor actor a trabalhar em filmes de artes marciais”. Convocou-o depois para o seu projecto de homenagem a esse género cinematográfico.

Também outra saga de acção, desta feita automóvel, importou Sonny Chiba para os públicos de massas via cinema norte-americano: o actor participou no filme Velocidade Furiosa – Ligação Tóquio (2006) no papel de um chefe da Yakuza.

O mau da fita

Shinichi “Sonny” Chiba era o nome artístico de Sadaho Maeda, que nasceu em Fukuoka em 1939 e cresceu como ginasta talentoso. Estudou artes marciais no ensino superior. Começou na televisão, passou para o cinema em thrillers e até tentou a sorte em filmes de ficção científica. Só nos anos 1970 pôs verdadeiramente a uso os seus dotes de luta com o filme Karate Kiba (1973). Com o seu mercenário de The Street Fighter, Takuma Tsurugi, e a violenta saga que encetou, consolidou-se como anti-herói. O que mais gostava era de ser, precisamente, o mau da fita.

A sua influência faz-se sentir na escola que fundou e que formou alguns dos actores japoneses de perfil internacional da actualidade, mas também nas coreografias de luta que até hoje marcam o estilo de estrelas de acção como Keanu Reeves, que lhe dá o crédito de juntar “personagem e acção”. Como recupera a CNN, as comparações inevitáveis com Bruce Lee paravam quando se analisavam mais de perto as personagens tipo e o estilo de ambos - Chiba aplicava mais força, era mais violento, menos bailarino, e, como escreve Scottie Andrew, “as suas personagens matavam quase sempre os seus adversários”.

Deixou por estrear o filme Bond: Kizuna, que se encontra em pós-produção.

Sugerir correcção
Comentar