Com Michelangelo pela estrada fora
Não foi uma década qualquer, a dos 70. Não é uma década qualquer para Antonioni, que sai de Itália para correr o mundo (esteve nos “sítios certos à hora certa”, o que lhe valeu a alcunha hostil de “turista do momento”). Uma adenda ao ciclo parte estrada fora.
A blague é mais velha do que o tremoço. Em A Ultrapassagem (1962), de Dino Risi, Vittorio Gassman perguntava a um virginal Jean-Louis Trintignant se já tinha visto algum filme daquele tipo, “o Antonioni”. Que são “bons para dormir”. Aqui, a referência ao soporífero não é metáfora (desculpa) para algo de salvífico de bom-tom (já se ouviram Apichatpong ou Kiarostami elogiarem filmes que os fizeram adormecer como objectos “mágicos”, que ver um filme entre cochilos oferece “novas possibilidades”, que produz “outras imagens” na mente do espectador, etc. e tal...). Não, é mesmo uma espirituosa alfinetada de Risi a Michelangelo Antonioni, colegas de métier e de geração aparentemente distantes nos seus programas estéticos: o primeiro, mestre da commedia all’italiana, o segundo, esteta do espaço, da solidão, do silêncio.
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