Equipa de Octávio Mateus descobriu em Angola um dos mais completos plesiossauros de África
Réptil marinho com 72 milhões de anos foi encontrado em Bentiaba, na província do Namibe, em 2017.
Um dos mais completos plesiossauros (um réptil marinho) de África foi descoberto em Angola por paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Num novo estudo publicado na revista PlosOne revela-se “o mais completo crânio de plesiossauro de África subsariana, tendo sido descoberto e escavado na província do Namibe, Angola, por Octávio Mateus, em 2017”, refere um comunicado da UNL divulgado na noite de terça-feira.
“Além de ser o mais completo plesiossauro de África subsariana, o achado é importante porque tem um crânio bem preservado e articulado”, sublinha o comunicado. “É a mais recente descoberta” do Projecto PaleoAngola, uma iniciativa científica que já deu a conhecer o primeiro dinossauro de Angola e outros vertebrados fósseis daquele país, no âmbito da cooperação entre a UNL, o Museu da Lourinhã, a Universidade Agostinho Neto em Angola e outras instituições nos Estados Unidos e nos Países Baixos.
O achado agora em destaque foi classificado como Cardiocorax mukulu, uma espécie que o Projecto PaleoAngola já tinha descoberto em Angola em 2015. O novo espécime de Cardiocorax mukulu foi recuperado em Bentiaba, na província do Namibe, em rochas do Cretácico Superior com cerca de 72 milhões de anos.
A natureza tridimensional bem preservada do crânio oferece uma visão rara da anatomia craniana destes plesiossauros. Os plesiossauros elasmossaurídeos, como é o caso deste fóssil, “semelhantes ao mítico monstro de Loch Ness”, podiam atingir 20 metros de comprimento, com cabeças pequenas e pescoços muito longos, refere ainda o comunicado.
“O Cardiocorax mukulu representa uma linhagem mais antiga de elasmossaurídeos e que pouco se alterou em dezenas de milhões de anos, o que surpreendeu os paleontólogos”, salienta-se. Os exames por tomografia computadorizada do crânio revelaram que a anatomia craniana desta linhagem pouco evoluiu durante um período de 22 milhões de anos, compreendido entre há 88 milhões de anos e 66 milhões de anos (quando estes répteis marinhos e muitos dinossauros, entre outras formas de vida, se extinguiram). O que é raro. “A linhagem dos elasmossaurídeos manteve-se quase inalterada. É um caso de estabilidade evolutiva”, nota Octávio Mateus, paleontólogo da UNL e do Museu da Lourinhã.
O estudo deste réptil marinho foi o resultado da tese do mestrado em paleontologia da UNL, em associação com a Universidade de Évora, por Miguel Marx, que é o principal autor do estudo. O trabalho de laboratório foi feito na UNL. Miguel Marx, que terminou o seu mestrado em Portugal, vai agora iniciar o doutoramento na Universidade de Lund, na Suécia, no final deste mês.
Entre os co-autores, além de Octávio Mateus e de Miguel Marx, incluem-se Louis Jacobs e Michael Polcyn (da Universidade Metodista nos Estados Unidos), Anne Schulp (do Centro de Biodiversidade Naturalis e da Universidade de Utrecht nos Países Baixos); e Olímpio Gonçalves (da Universidade Agostinho Neto, em Angola).
Muitos dos fósseis de Angola colhidos por esta equipa estão actualmente em exibição no Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, em Washington, na exposição temporária Sea Monsters Unearthed. Depois passarão por Portugal, antes de regressarem todos definitivamente a Angola. Alguns fósseis da espécie Cardiocorax mukulu podem também já ser vistos no Museu da Lourinhã antes de voltarem à sua origem, adianta o comunicado.