Cannabis, é preciso mais informação

O CBD tem-se demonstrado eficaz na redução da ansiedade e depressão. Olhando para o lado reverso da moeda, um elevado número de estudos científicos tem relacionado o consumo de cannabis com a probabilidade acrescida de desenvolver psicoses, esquizofrenia e paranóia, assim como incidentes relacionados com violência.

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Elsa Olofsson/Unsplash

Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a cannabis (também conhecida como marijuana e por muitos outros nomes) e dos seus benefícios. Ainda este ano, o Infarmed aprovou a primeira substância à base de cannabis para fins medicinais

Apesar de ilegal em Portugal, tem-se normalizado o consumo desta substância, sendo que, segundo os dados do último Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Portuguesa, realizado em 2016, o consumo de substâncias ilícitas abrange cerca de 15,2% da população dos 15 aos 74 anos. A cannabis é, de longe, a substância mais consumida e a prevalência do seu uso incide, de um modo muito claro, no sexo masculino e em idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos, sendo que cerca 4% destes indivíduos fazem um uso diário desta substância e cerca de 96,9% dos inquiridos referem que esta substância é de “muito fácil” ou “fácil” acesso. 

Aquando da minha prática profissional (como psicóloga), alguns pacientes têm referido o consumo próprio, de familiares ou de amigos como uma prática recorrente para diminuir a ansiedade, melhorar a qualidade do sono e até para obterem uma melhor concentração. No entanto, associado a este consumo está uma constante desvalorização face às qualidades aditivas da cannabis, à possibilidade de overdose e às consequências do uso prolongado. 

O principal factor de medição do custo/benefício associado ao consumo de cannabis está relacionado com a frequência do consumo e as quantidades consumidas. Devido ao facto de ser uma substância natural, o consumo de cannabis é muitas vezes banalizado. No entanto, é importante perceber que esta é uma planta complexa e que os seus compostos químicos, como o THC (tetra-hidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), interagem com regiões específicas do cérebro impactando a forma como pensamos e sentimos

O CBD tem-se demonstrado eficaz na redução da ansiedade e depressão. Em contrapartida, o THC funciona como um amplificador que poderá, por outro lado, aumentar os níveis de ansiedade e depressão. Especialmente num cérebro em desenvolvimento, como é o caso dos adolescentes, este químico pode transformar uma mera sensação de angústia num ataque de pânico. No entanto, são vários os relatos dos benefícios do uso da cannabis no tratamento das náuseas, dor crónica e em doentes em tratamentos oncológicos, por exemplo. 

Olhando para o lado reverso da moeda, um elevado número de estudos científicos tem relacionado o consumo de cannabis com a probabilidade acrescida de desenvolver psicoses, esquizofrenia e paranóia, assim como incidentes relacionados com violência. Um outro efeito é a deterioração cognitiva que poderá traduzir-se em problemas de atenção, memória e raciocínio e dificuldades de comunicação. Quanto à população mais jovem, a evidência científica demonstra que a utilização de cannabis no início na adolescência está associada a défices cognitivos de curto, e possivelmente longo prazo, piores resultados académicos e maior prevalência de perturbações psicóticas, de humor e dependências. 

O consumo de cannabis para fins recreativos, apesar de ilegal, é relativamente frequente em Portugal embora o nosso país esteja muito abaixo da média europeia. Em contrapartida, tem-se tornado algo inconsciente a banalização associada a este tema, sendo que os consumidores devem estar conscientes dos efeitos do seu uso a curto, médio e longo prazo que são suportados por uma vasta evidência científica. 

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