Com a pandemia, universidades reforçaram ou criaram serviços de apoio psicológico aos alunos

Cinquenta instituições de ensino superior accionaram ou reforçaram os seus gabinetes e serviços de apoio psicológico. Na maioria das instituições foram ainda disponibilizados equipamentos e rede de internet a alunos carenciados.

Foto
Nuno Ferreira Santos

A maioria das universidades e institutos politécnicos accionou ou reforçou os serviços de apoio psicológico aos alunos durante a pandemia, enquanto outras criaram gabinetes ou reencaminharam os estudantes para serviços externos, revela um inquérito a 86 instituições. O estudo foi promovido pela task force de Ciências Comportamentais para perceber que apoios tiveram os estudantes durante a pandemia.

Segundo os dados divulgados esta quarta-feira, 50 instituições de ensino superior (IES) accionaram ou reforçaram os seus gabinetes e serviços de apoio psicológico, enquanto outras dez tiveram de criar esse serviço durante a pandemia. O estudo mostra ainda que nove instituições optaram por encaminhar os seus alunos para serviços externos.

Num universo de 86 universidades e institutos politécnicos analisados, 11 disseram não ter conhecimento ou não disponibilizaram informação à task force, que foi criada em Março para recolher informação que permita formular políticas públicas e estratégias para fazer face à actual e a futuras pandemias.

No relatório, a task force faz algumas recomendações às instituições como a necessidade de “implementar ou adaptar o apoio e aconselhamento psicológico”, mas também de terem programas de promoção de saúde, estilos de vida saudáveis e programas de promoção de competências socioemocionais.

Quando questionadas sobre as iniciativas levadas a cabo para promover comportamentos saudáveis, metade das instituições (43) disse ter reforçado ou mesmo implementado programas e campanhas, como aulas de desporto online ou a disponibilização de receitas saudáveis. Duas instituições admitiram não ter implementado quaisquer medidas nesta área e outras 11 não mencionaram nenhuma iniciativa ou referiram não ser aplicável.

Para os alunos que chegaram ao ensino superior em plena pandemia, metade das instituições referiram ter prestado apoio à integração dos estudantes do primeiro ano, através de actividades presenciais e online – que contou com a mentoria de estudantes mais velhos ou de docentes. “Foi ainda referida a preferência pelas aulas presenciais com alunos do primeiro ano, sempre que possível e no cumprimento das medidas de contenção do vírus da covid-19”, refere o documento.

A task force recomenda às instituições que os estudantes do primeiro ano dos ciclos de estudos devem ter um apoio reforçado ao nível da adaptação e integração. Quanto aos alunos dos últimos anos, recomenda apoio suplementar e ajustado à situação de saúde pública, sem esquecer a transição para a vida activa e mercado de trabalho.

O sucesso académico e a prevenção do abandono escolar fazem também parte das preocupações. No relatório é aconselhada a promoção de metodologias de ensino e aprendizagem que estimulem a autonomia e auto-regulação, bem como o desenvolvimento de práticas justas e adequadas de monitorização e avaliação das aprendizagens à distância.

Para combater o abandono, 32 instituições apostaram no apoio e tutoria por parte da coordenação do curso e dos professores que tinham “maior disponibilidade horária para atendimento e sensibilização para a sinalização e encaminhamento de casos em risco de abandono escolar”, refere o documento.

Também os serviços de apoio psicológico e social foram envolvidos no combate ao abandono, segundo o relatório que dá como exemplo o projecto desenvolvido pela Universidade do Algarve SOS Abandono, que tenta apoiar os estudantes através de alojamento e intervenção psicológica. Outras medidas referidas por muitas instituições foram: alargar as épocas e prazos de exames, bem como de entregas de teses e relatórios e flexibilizar as regras de pagamento de propinas e emolumentos.

O Instituto Politécnico de Castelo Branco surge com uma ideia diferente ao ter conseguido, através de um acordo com a autarquia local, o pagamento de metade do valor das propinas dos estudantes da cidade. Já os directores dos cursos da Universidade de Aveiro garantem que conseguiram estar a par de um conjunto de indicadores que prediz o risco de abandono ou insucesso escolar através do Observatório do Percurso dos Estudantes.

Na Universidade de Coimbra tentaram, através do Projecto Especial UC - Regressa e Acaba, que aqueles que tinham interrompido os estudos voltassem, mas também se focaram em proteger os alunos internacionais e em mobilidade através do Fundo de Apoio de Contingência.

Na maioria das instituições (51 num universo de 86) foram priorizados os estudantes carenciados ou em situações de vulnerabilidade económica para a disponibilização de equipamentos e rede de internet. “As instalações que não forneceram material informático facilitaram o acesso aos campus”, acrescenta o relatório, adicionando ainda que houve sete instituições que não responderam à questão, sendo que duas referiram que estudantes não precisaram de apoio e outra que este não foi disponibilizado.

Durante a pandemia, muitas instituições também levaram a cabo iniciativas de voluntariado para a realização de projectos de sensibilização dos alunos, tendo em vista o reforço da solidariedade social no contexto pandémico. Estudantes de enfermagem de várias instituições – desde a universidade de Trás-os-Montes à Madeira – apoiaram a população mais vulnerável fazendo testagem e dando apoio na vacinação e realização de inquéritos.

Houve ainda alunos que trabalharam na criação de viseiras que, mais tarde, foram doadas ao Instituto Português de Oncologia e à Polícia de Segurança Pública, outros garantiram o funcionamento sem parar de uma rádio, que transmitia programas com foco na promoção da saúde mental, comportamentos saudáveis e de solidariedade social.

O relatório mostra ainda o trabalho dos alunos durante a pandemia, como aconteceu no ISPA – Instituto Universitário, onde os estudantes desenvolveram o projecto de apoio psicossocial PsiQuaren10, sob supervisão de docentes.