Comité Olímpico expulsa os treinadores envolvidos no caso de Krystina Tsimanouskaya

Foram estes treinadores que retiraram a velocista da equipa nacional depois de esta os ter criticado publicamente, tentando forçá-la a regressar à Bielorrússia. Atleta já está na Polónia, onde pediu asilo.

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Krystina Tsimanouskaya numa conferência de imprensa em Varsóvia, na quinta-feira Maciek Jazwiecki/Reuters
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A atleta que pediu asilo à Polónia com o opositor bielorrusso Pavel Latushka Reuters
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“Eu só quero correr”, lê-se na T-shirt que Tsimanouskaya exibiu na conferência de imprensa Reuters

Com Krystina Tsimanouskaya já em segurança na Polónia, o Comité Olímpico Internacional anunciou esta sexta-feira que expulsou dos Jogos Olímpicos os dois treinadores de atletismo bielorrussos, Artur Shimak e Yury Maisevich, que tentaram forçar a velocista a regressar à Bielorrússia contra a sua vontade, depois de a retirarem da equipa na véspera da prova que a levara a Tóquio, os 200 metros.

O COI diz que a decisão de retirar as acreditações aos dois treinadores é “uma medida provisória” tomada “no interesse do bem-estar dos atletas do Comité Olímpico Nacional da Bielorrússia que ainda estão em Tóquio”. Uma comissão disciplinar foi entretanto criada para investigar o incidente, e os treinadores “terão a oportunidade de ser ouvidos”. O Comité bielorrusso reagiu com o seu próprio comunicado, onde diz estar a trabalhar com o COI para “clarificar” os motivos que levaram a esta decisão e assegura que irá proteger a sua equipa de “quaisquer formas de discriminação”.

Numa conferência de imprensa na sexta-feira, o presidente do COI, Thomas Bach, descreveu o que aconteceu a Tsimanouskaya como “deplorável” e afirmou-se “feliz” por sabê-la bem e na Polónia.

Oficialmente, o Comité Olímpico bielorrusso diz que os treinadores decidiram retirar Tsimanouskaya dos jogos sob conselho médico e por estarem preocupados com o seu “estado emocional e psicológico”. Segundo a velocista, de 24 anos, tudo aconteceu por ela ter criticado os treinadores em público, acusando-os de “negligência” por a terem inscrito sem o seu conhecimento nas estafetas de 4x400.

Horas depois, no domingo, foi-lhe dito que fizesse as malas. Já no aeroporto, os treinadores foram surpreendidos por Tsimanouskaya, que abordou a polícia japonesa para pedir ajuda. “Eles não esperavam que eu me aproximasse da polícia. Pensam que ficamos com medo, que temos medo de falar, de dizer a verdade ao mundo. Mas eu não tenho medo”, disse Tsimanouskaya. Quando se aproximou dos polícias, mostrou-lhes um pedido de ajuda que traduziu no seu telemóvel. Foi no aeroporto que recebeu protecção policial e ali dormiu antes de ser levada no dia seguinte à embaixada polaca. Na quarta-feira, saiu do Japão.

Na Polónia, onde chegou com um visto humanitário passado pela embaixada de Varsóvia em Tóquio, Tsimanouskaya contou como tomou a decisão de recusar embarcar no avião que a levaria de volta ao seu país: já no táxi a caminho do aeroporto, percebeu que a família temia que ela fosse enviada para um hospital psiquiátrico se voltasse à Bielorrússia, quando a avó lhe telefonou e lhe disse para não voltar. “A avó ligou-me quando eles já me estavam a levar para o aeroporto”, afirmou. “Tive uns 10 segundos. Ela telefonou-me e só dizia: ‘Por favor, não voltes para a Bielorrússia, não é seguro’”, explicou aos jornalistas.

A velocista soube depois que o seu comportamento fora descrito como “antipatriótico” pela televisão nacional bielorrussa.

A Polónia, país que se destaca há muito pelas críticas ao regime de Alexander Lukashenko, tem acolhido muitos activistas em fuga e foi um dos primeiros a oferecer ajuda a Tsimanouskaya. Assim que ela decidiu não voltar, o seu marido fugiu da Bielorrússia, passando a fronteira com a Ucrânia, e também já recebeu um visto humanitário das autoridades polacas.

No poder desde 1994, Alexander Lukashenko foi reeleito o ano passado numas eleições consideradas fraudulentas pela oposição, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, e que desencadearam a maior vaga de contestação de sempre contra o regime.

A repressão foi a arma usada contra manifestantes pacíficos. Em Junho, a relatora da ONU para a Bielorrúsia, Anais Marin, denunciava “crimes sem precedentes no alcance e gravidade”, com mais de 35 mil pessoas presas arbitrariamente e dezenas de milhares obrigadas a fugir, descrevendo ainda o uso de “violência generalizada contra os manifestantes, casos de desaparecimentos forçados, acusações de tortura e maus-tratos”.

Alguns desportistas de elite juntaram-se aos protestos, apesar de contarem com financiamento do Governo. Vários foram presos, incluindo a basquetebolista olímpica Yelena Leuchanka e o atleta do decatlo Andrei Krauchanka. Outros foram retirados das equipas nacionais. Não foi o caso de Tsimanouskaya.

“Mantive-me sempre afastada da política, não assinei cartas nem estive os protestos. Não disse nada contra o Governo bielorrusso”, afirma. “Pode parecer cruel por causa de todas as coisas terríveis que aconteceram na Bielorrússia no Verão passado, mas eu estava a tentar manter-me longe… tudo o que eu queria era ir aos Olímpicos e fazer o meu melhor”, diz.

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