Alemanha e França ignoram pedido de moratória à terceira dose da vacina feito pela OMS

A Organização Mundial de Saúde pediu aos países ricos, com grande parte da população vacinada contra a covid-19, para adiarem terceira dose até que pelo menos 10% da população mundial esteja imunizada.

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Nos países mais desenvolvidos, já se vacinou 51,5% da população, para 1,36% nos países mais pobres Paulo Pimenta

O pedido da Organização Mundial de Saúde (OMS) foi feito na quarta-feira. No mesmo dia que o director-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendeu que “não podemos, e não devemos, aceitar que países que já usaram a maior parte do stock mundial de vacinas usem ainda mais, enquanto a população mais vulnerável do mundo continua desprotegida”, os Estados Unidos recusavam a proposta. Um dia depois, a Alemanha e a França confirmavam a sua intenção de começar a oferecer uma dose de reforço a partir de Setembro às pessoas vulneráveis.

A própria Comissão Europeia fez saber que a decisão sobre a possível terceira dose depende das autoridades nacionais, pelo que não se envolverá, escreve o diário espanhol El País.

O director-geral da OMS já criticou várias vezes a desigualdade no acesso a vacinas entre países ricos e pobres, mas o pedido feito na quarta-feira foi o mais forte até agora para que as nações mais ricas contribuam para permitir um acesso mais justo às vacinas que estão a permitir ao mundo reagir à pandemia.

Mais de 80% das doses têm sido administradas em países de rendimento alto e médio-alto que representam menos de metade da população mundial, disse Ghebreyesus. Segundo dados das Nações Unidas, nos países mais desenvolvidos já se vacinou 51,5% da população, quando nos países mais pobre se está ainda nos 1,36%. O compromisso dos países do G20 para com a vacinação global vai determinar o curso da pandemia, sublinhou o responsável: “Precisamos da cooperação de todos.”

Poucas horas depois da conferência de imprensa de Ghebreyesus, o Presidente francês, Emmanuel Macron, escrevia na sua conta de Instagram que “uma terceira dose será provavelmente necessária, não para toda a gente de uma forma imediata, mas para os mais vulneráveis e para as pessoas mais velhas”. Na Alemanha, o Ministério da Saúde confirmava que em Setembro vai começar a administrar a terceira dose “às pessoas mais velhas e às que se encontram em lares”.

Em Espanha, a ministra da Saúde, Carolina Darias, afirmou no dia 23 de Julho que “tudo aponta” que uma terceira dose será necessária, mas ainda não há planos para o fazer. No mesmo dia, em Portugal, o Infarmed afastava a necessidade de uma eventual terceira dose: num esclarecimento, o regulador nacional do medicamento referia que “a informação disponível até à data não permite concluir sobre a necessidade, e momento, de realização de reforço vacinal”, valendo, por isso, para já o esquema conhecido, com a administração da vacina de unidose (Janssen) e de duas doses intervaladas (Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca).

Mas pelo menos a Alemanha e a França parecem decididas a iniciar o reforço antes mesmo de a Agência Europeia do Medicamento (EMA) indicar que o considera necessário. Num comunicado conjunto com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, a EMA afirmou esta semana que “as vacinas aprovadas até agora [BioNTech/Pfizer, AstraZeneca, Moderna e Janssen] oferecem um alto nível de protecção face ao risco de doença grave ou morte por causa do vírus SARS-Cov-2, incluindo as variantes, como a Delta”. Por isso, os dois organismos defendem que a prioridade deve ser promover a vacinação entre os que “são aptos, mas ainda não se vacinaram”.

Sem consenso científico sobre a eficácia de uma terceira dose – a Pfizer e a BioNTech reportaram que uma terceira dose da sua vacina aumenta o nível de anticorpos contra algumas variantes, incluindo a Delta –, o pedido do OMS aconteceu pouco depois de o primeiro país do mundo ter começado a dar uma dose de reforço a maiores de 60 anos. Trata-se de Israel, que já administrara este reforço a algumas pessoas imunodeprimidas.

Apesar das dúvidas, a Comissão Europeia reconheceu há meses que a incerteza sobre a duração da imunidade das vacinas faz com que seja aconselhável estar preparado para a necessidade de uma ou mais doses de reforço durante os próximos dois anos.

Na quarta-feira, o executivo europeu, dirigido por Ursula von der Leyen, anunciava a conclusão de um sétimo contrato de aquisição de vacinas, com a empresa Novavax, para a entrega de 200 milhões de doses assim que esta vacina seja aprovada pela EMA. Ao todo, numa União com 450 milhões de habitantes, Bruxelas já reservou 4600 milhões de doses.

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