Emprego: “Então, pensa ter filhos?”
Uma jovem portuguesa tem o seu primeiro filho em média aos 32 anos, enquanto a média mundial se situa nos 28 anos. Neste momento, em Portugal, no primeiro semestre nasceram menos 4.400 bebés, comparativamente com o período homólogo. São dados preocupantes.
Esta é a pergunta que muitas empresas fazem em entrevistas de trabalho às jovens candidatas, acabando por, de alguma forma, intimidar as mulheres que vão adiando a maternidade numa altura em que a sociedade exige mais da vida profissional e desvaloriza, ao longo dos tempos, a família.
Embora sejam resultados preliminares, os números dos Censos 2021 que foram recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram um Portugal a envelhecer, em que a taxa de fecundidade revela uma baixa de 2%. Grande parte desse adiamento prende-se a razões de ordem laboral e, assim, adia-se o nascimento do primeiro filho.
Uma jovem portuguesa tem o seu primeiro filho em média aos 32 anos, enquanto a média mundial se situa nos 28 anos. Neste momento, em Portugal, no primeiro semestre nasceram menos 4.400 bebés, comparativamente com o período homólogo.
Estes preocupantes dados, para além de porem em causa a sustentabilidade da Segurança Social, mostram uma fraca política de incentivo à natalidade e a maternidade, paulatinamente, é cada vez mais um sonho adiado, não fazendo parte dos planos das jovens famílias.
Associar uma política fiscal mais amiga das jovens mulheres, criando simultaneamente nas empresas um apoio directo para que estas possam garantir uma correcta conciliação entre a vida profissional e a vida familiar são factos que podem mitigar a questão. A falta de uma rede pública de creches e uma reforma da lei laboral em relação a este tema podem também dar um novo alento à necessidade de fazer crescer a taxa de natalidade.
O apoio entre os dois mais importantes aspectos da vida de cada um de nós (laboral e familiar) deve ser incutido nos sistemas organizacionais, e se a questão da fraca taxa natalidade está associada à mulher, com a perda da sua individualidade, há que quebrar de vez este paradigma. Até agora, os resultados que nos mostram reflectem que as políticas públicas que se desenvolveram foram meros paliativos.
Portugal deveria repensar, a título de exemplo, a política do tratamento de fertilidade, criando mais centros públicos que chegam a estar com dois anos de atrasos no começo dos tratamentos, não se pondo a questão de se recorrer ao sistema privado. E tudo se adia.
Mas para que todos os factores se conjuguem, é preciso criar aquilo que não há: emprego, evitando assim que a maioria dos jovens emigre. Os apoios sociais e fiscais também não são suficientes. Porque não basta pagar menos IRS em função do número de filhos, criar condições no interior do país para os jovens casais, etc… É na economia que tudo isto se pode combater, criando mais e melhores condições de vida.
É o sentimento de incerteza, a precariedade e a falta de confiança no futuro, com fracas políticas públicas, que tendem a influenciar a decisão de ter filhos, mas todas as medidas a serem criadas devem prosseguir a tónica da estabilidade e da coerência para que se possa saber com o que contar. Está na hora de tornar a natalidade um desígnio nacional, para que se inverta os números que a todos devem deixar em estado de alerta.