Luciana Diniz voltou a estar perto do zero

A luso-brasileira ficou em 10.º na final dos saltos em Tóquio. Por culpa própria, admitiu. O Vertigo du Desert esteve perfeito.

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Reuters/HAMAD I MOHAMMED

O zero na prova de saltos significa perfeição. Significa que a dupla não derrubou qualquer obstáculo e cumpriu o percurso no tempo permitido. Luciana Diniz e o seu Vertigo du Desert estavam lançados para a perfeição na final dos obstáculos em Tóquio, mas um derrube no 13.º obstáculo afastou-os de uma posição mais alta. Sem o tão desejado zero, com quatro pontos de penalização a puxá-la para baixo, a dupla que representou Portugal na final olímpica ficou-se pelo 10.º lugar, um resultado que não foi uma melhoria para Luciana Diniz nesta sua quarta participação olímpica – o melhor continua a ser o nono lugar de há cinco anos, no Rio de Janeiro.

Foi a diferença entre cinco ou seis galões (lances de galope) na abordagem ao penúltimo obstáculo, como explicou a amazona luso-brasileira, que assumiu as culpas pela dupla. “Foi o único obstáculo que eu não montei perfeitamente, foi por isso que ele caiu, faltou um pouco de precisão, ali tinha uma opção, cinco ou seis galões, como o tempo estava apertado, acabei por optar por seis. Ele estava muito bem. Cometi uma pequena falha. O cavalo estava perfeito”, reconheceu.

Apenas seis duplas terminaram o percurso com o zero da perfeição. Luciana Diniz ia nesse ritmo e, não fosse o derrube no último obstáculo, teria feito o melhor tempo (o limite eram 88 segundos, Luciana fez em 84,69s), idêntico a todos os que acabariam por disputar as medalhas num “jump-off” – um percurso mais curto em que o britânico Ben Maher, com o Explosion, foi o mais rápido, deixando o sueco Peder Fredricson (All In) em segundo e o holandês Maikel van der Vleuten (Beauville Z) em terceiro.

Esta foi a quarta participação olímpica de Luciana Diniz, a terceira consecutiva por Portugal (começou em Atenas 2004, pelo Brasil), e esta está no meio em termos de resultados. Em Londres 2012, com o Lennox, derrubou dois dos três últimos obstáculos na final e ficou em 17.º lugar. No Rio 2016, que tinha um formato de final diferente do de Tóquio (havia duas rondas), Luciana e a Fit for Fun passaram à segunda ronda da final, mas com uma penalização de quatro pontos que dificilmente daria pódio – deu para um nono lugar.

Agora, é pensar no que irá acontecer daqui a três anos e que companhia irá Luciana Diniz levar a Paris. “O Vertigo? Não sei. Ele tem 12 anos, vai ter 15 daqui a três. De certeza que pode fazer Paris 2024. Dependo do cavalo, do espírito dele… Ele tem um carácter maravilhoso, não olha a nada, segue, está sempre focado, é incrível”, elogiou a cavaleira, que teve pouco tempo para preparar a sua montada olímpica para Tóquio.

O seu plano original era trazer para o Japão a Fit for Fun, a égua que levara para o Rio. “Em 2019, ela teve uma lesão e teve de ser o Vertigo, um cavalo jovem e sem experiência que nunca tinha saltado em pistas grandes. Foi um grande salto na vida dele e ele fê-lo de uma forma excelente. Trabalhou ‘hard’ para a nossa classificativa e transformou-se num cavalo olímpico. Na minha opinião, é um dos melhores cavalos.”

Luciana Diniz optou por competir por Portugal (que acontece desde 2006) para honrar o seu avô português, de Trás-os-Montes. A cavaleira falou do orgulho que o avô sentiu quando a viu representar as cores portuguesas na prova individual e quer contribuir para que o país que ocupa uma das metades do seu coração (a outra metade, claro, é brasileira) tenha, no futuro, uma equipa em Jogos Olímpicos: “Temos de construir os cavaleiros e conseguir manter os bons cavalos em Portugal e tentar classificar uma equipa para as próximas competições.”

O lutador de sumo

Qualquer coisa pode espoletar uma reacção num cavalo e fazer com que ele se recuse a saltar um obstáculo ou falhá-lo completamente. No percurso de 585 metros desenhado pelo espanhol Santiago Varela, havia um elemento decorativo que, supostamente, estava a assustar os cavalos: um lutador de sumo em tamanho real e, segundo alguns cavaleiros presentes em Tóquio, muito realista.

“Quando nos aproximamos, começamos a ver um rabo gigante. Vi que uns quatro ou cinco cavalos se assustaram”, testemunhou Harry Charles, um dos cavaleiros britânicos.

Na final, colocado no terceiro obstáculo, não pareceu que o lutador de sumo tivesse incomodado muito. Não houve qualquer derrube no sítio onde se encontrava a volumosa figura, ao contrário do que acontecera nas qualificações, em que três cavalos se recusaram a saltar o obstáculo.

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