Fernando Pimenta conquista medalha de bronze
Canoísta português foi terceiro no K1-1000 em Tóquio, a sua segunda medalha olímpica nove anos depois da prata de Londres com Emanuel Silva.
Fernando Pimenta estava em modo vingança pelo que tinha passado em 2016. As folhas das árvores da lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, ainda lhe estavam na cabeça, assim como um quinto lugar e um imenso sabor a frustração. Cinco anos depois, em Tóquio, o homem de Ponte de Lima limpou parte dessa frustração com uma medalha de bronze esta terça-feira no K1 1000m, a segunda medalha olímpica da sua carreira (foi prata com Emanuel Silva em 2012) e a terceira de Portugal nestes Jogos. Um sonho cumprido, disse Pimenta, e vingança concretizada. Mas o canoísta que tem 105 medalhas no currículo quer mais. “Este é um dos sonhos, falta o outro, ser campeão olímpico.”
Pimenta começou o dia bem. Nas meias-finais, “só” bateu o recorde olímpico e deixou um aviso aos concorrentes. Saiu da pista quatro, mas teve de lá voltar outra vez porque houve falsa partida. De novo as oito embarcações alinhadas, e nova partida. Pimenta na frente ao 250m, mas com pouca folga em relação ao húgaro Balint Kopasz (apenas 0,09s). Aos 500m e aos 750m, Pimenta em segundo e ainda bem dentro da corrida, mas já se sabe que o seu ponto forte não são os últimos metros antes da meta.
Pouco antes da linha de chegada, já dava para perceber que o português não iria chegar ao primeiro, que ia perder o segundo e que podia não segurar o terceiro. Após a evidente vitória de Kopasz, ainda levou algum tempo até surgir a informação dos restantes lugares. Adam Varga, o outro húngaro da final, ficou com a prata (com mais 1,788s que o compatriota), e Pimenta segurou o bronze, a 1,835s de Kopasz, mas apenas 0,076s à frente do alemão Jacob Schopf.
Ainda há coisas para conquistar
Assim que saiu do barco, Pimenta bateu com a pagaia no chão, com alguma violência, sinal de que, mais do que frustrado, tinha ficado irritado com o terceiro lugar. Era o que parecia, mas depois viu a medalha de perto, pegou nela e os sorrisos finalmente apareceram. Beijou o pódio, tirou uma chucha cor-de-rosa do bolso e meteu-a na boca, um sinal para a sua filha pequenina Margarida, que nasceu em Dezembro. Com a medalha ao pescoço, Pimenta já parecia outro.
“É tocar na medalha, pegar na medalha, sentir a medalha, é importante os portugueses estarem felizes e orgulhosos do meu percurso e deste ciclo olímpico que foi muito duro”, disse já com a rodela de metal ao pescoço, mas consciente de que não irá ter muito tempo para descansar. E que Hélio Lucas, o treinador, não o vai deixar muitos dias parado, porque ainda há coisas a conquistar. “Não sei quais são os planos do mister, vai dar-me descanso até ao final da semana e depois volto a trabalhar.”
Falta ouro na colecção
Nas palavras que proferiu após a conquista do bronze em Tóquio, Pimenta voltou várias vezes ao que acontecera no Rio, em que fracassou duas vezes, tanto no K1, como no K4. Foi a pensar nisso que, diz, beijou o pódio que pisou na capital japonesa. “Beijei este pódio porque foi o que me fugiu em 2016, infelizmente fui alvo de muitas críticas. Esta é para as pessoas que não acreditavam e que esperavam que o Pimenta ia falhar o pódio. 2016 foi um ano terrível, não queria saber se ia voltar a competir ou a fazer desporto, só queria estar desligado do desporto… Tinha um monstro na cabeça que me fazia acordar durante a noite. Mas tive sempre a melhores pessoas do meu lado e isso foi fundamental.”
Pimenta mais do que compensou o que aconteceu nos Jogos cariocas com um ciclo absolutamente dominante em termos de conquistas – três títulos mundiais são o destaque entre dezenas de posições de pódio nos últimos cinco anos. E o seu foco está já nos próximos Mundiais de canoagem, em Copenhaga. Por isso é que o treinador não lhe vai dar descanso.
“Tenho ambição e vontade de competir. Vou estar na luta pelo título mundial. Em vez de festejar, vou pôr os pés na terra e continuar o trabalho, continuar a desfrutar deste lindo processo de sofrimento e de treino e de sacrifício no desporto de alta competição”, disse o canoísta.
Já a pensar no ouro olímpico em 2024, Pimenta não descartou manter-se nos Jogos até 2032 e fazer uma viagem até Brisbane, na Austrália: “Acredito que daqui a três anos vou estar na luta em Paris. Enquanto sentir que posso estar no alto rendimento, podem contar comigo. Em 2028 acho mais difícil, em 2032 vão introduzir o surf slalom, uma prova de mar – posso aproveitar a costa e fazer uma especialidade diferente da minha. Com a experiência que tenho, talvez possa fazer alguma coisa.”