Podia ser um provérbio popular, mas não é.
Lamentavelmente, é a triste realidade que ainda hoje, mesmo após a criminalização do abandono de animais de companhia em 2014 e o agravamento das penas deste crime em 2020, continua a verificar-se de norte a sul do país. O abandono de animais de companhia, sejamos bem claros quanto a isto, é um crime público, previsto e punido pelo art.º 388.º do Código Penal e que pode acabar numa pena de prisão de seis meses, que poderá inclusivamente ser agravada em um terço se do abandono resultar perigo para a vida do animal. Não é uma questão de somenos.
A pandemia trouxe uma nova realidade às nossas vidas: o aumento das adopções para colmatar a solidão que os sucessivos confinamentos, o teletrabalho e os isolamentos profilácticos vieram impor. Resta saber o que sucederá a esses animais quando voltarmos “ao velho normal”. A pandemia trouxe ainda outras consequências: famílias que perderam empregos e casas e com eles perderam a capacidade de, entre as muitas escolhas de vida que tiveram de fazer, manter os seus animais consigo. Ou porque a nova habitação que encontraram (muitas vezes falamos apenas de um quarto, de casas partilhadas) não admite animais, ou porque vão emigrar (e preferem não levar o animal que representa mais um obstáculo a quem está a refazer a sua vida do zero), ou simplesmente porque perderam capacidade financeira para fazerem face a todas as despesas ou porque a saúde mental não permite equacionar soluções que exigem algum esforço e sacrifício.
É preciso encontrar soluções para estes casos. Estou certa de que um encontro de vontades entre várias entidades e as famílias que se tentam erguer é a resposta para encontrar saídas para estas situações. Se as famílias quiserem, se honrarem verdadeiramente o seu compromisso com os animais que um dia adoptaram, encontrar-se-á solução. Se baterem às portas certas encontrarão, certamente, muitas pessoas disponíveis para ajudar. Podem bater à minha.
A razão tradicional para os abandonos de Verão, porém, mantém-se: “vamos de férias e não sabemos o que fazer aos animais.” Aqui, confesso, já tenho mais dificuldades em aceitar a justificação. É cada vez mais fácil encontrar alojamentos pet friendly (basta uma pesquisa rápida na Internet). Por que razão não haveremos de os levar connosco? Certamente que se lhes perguntássemos, era o que prefeririam fazer: ir connosco. Se “ah e tal” não for viável, temos sempre aquele primo, aquela tia, aquela vizinha que adora o nosso Bobby e que se enternece com o ronronar do Tareco. Basta fazer um telefonema e perguntar se podem cuidar deles nas férias. Se formos um daqueles desgraçados que não tem tios, nem primos e vivem isolados num monte, é uma questão de contactar um serviço de pet sitting, uma associação local para que possam assegurar os cuidados aos animais enquanto estivermos fora. Se tudo o resto falhar, saibam que há hotéis que acolhem os animais durante as férias.
O abandono não é, em nenhum caso e sob que circunstância for, uma opção. Se deixarmos de ter disponibilidade emocional, logística ou financeira para cuidar de um animal, devemos procurar ajuda para a recuperar e se tal não for possível, devemos procurar uma nova família e não desistir enquanto não soubermos que o seu bem-estar e o seu futuro estão assegurados.
Em Agosto, não dê nenhum desgosto. Vá de férias sem esquecer os membros da sua família de quatro patas. Eles nunca tiram férias de si.