Antes do desconfinamento, retoma tem vindo a travar em Julho

Depois da retoma forte do segundo trimestre e antes do anúncio de medidas de desconfinamento feito esta quinta-feira pelo Governo, os indicadores económicos em Portugal têm estado a cair em Julho, revelam os dados publicados mais recentemente

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Paulo Pimenta

No dia em que o Governo anunciou o alívio de diversas medidas de confinamento a partir de Agosto e na véspera de se confirmar que o segundo trimestre foi de forte retoma na actividade, a economia portuguesa deu novos sinais, esta quinta-feira, de abrandamento durante o mês de Julho, deixando claro que o arranque da segunda metade do ano está, para já, a ser mais difícil do que o inicialmente previsto.

Dois dos indicadores mais usados para medir, quase em tempo real, a evolução da actividade económica em Portugal viram os seus valores para o mês de Julho ser publicados esta quinta-feira e os resultados não foram positivos.

O indicador de sentimento económico – que agrega as expectativas dos consumidores e dos empresários de diversos sectores de actividade – caiu em Portugal, segundo os valores calculados pelo Instituto Nacional de Estatística e publicado pela Comissão Europeia, de 110,6 pontos para 104,8. É a queda mais forte deste indicador desde Abril de 2020, no início da pandemia, e representa uma inversão da tendência de melhoria que se vinha registando desde o passado mês de Fevereiro. 

Em Fevereiro deste ano, o indicador de sentimento económico português estava em 85,5 pontos e iniciou uma escalada que o levou aos 111,4 pontos em Maio. Em Junho, com a quarta vaga da pandemia a forçar ao recuo em alguma medidas de desconfinamento, o indicador registou já uma ligeira descida, que em Julho se acentuou de forma marcada, em sintonia com o agravamento da situação sanitária.

Dentro deste indicador, destaque para a queda forte da confiança dos consumidores e das expectativas nos sectores do retalho, serviços e indústria. Apenas na construção, o sentimento se manteve estável, depois de ter registado uma queda em Junho.

No total da zona euro, o indicador de sentimento económico continuou a subir no mês de Julho, embora de forma mais moderada do que aquilo que vinha a acontecer desde o início do ano. A confiança dos consumidores europeus, contudo, já registou uma descida, afectada pelo ressurgimento do número de casos de covid-19 em alguns países durante este mês.

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A segunda informação relevante sobre a evolução recente da economia portuguesa dada a conhecer esta quinta-feira veio do indicador diário de actividade económica calculado pelo Banco de Portugal. Na semana entre 19 e 25 de Julho, a variação deste índice – calculado com base em dados como os fluxos de comércio internacional ou as operações de multibanco – face ao mesmo período de 2019 passou a ser ainda mais negativa (-5,4%) do que na semana anterior (-3,9%). Foi a terceira semana consecutiva de quebra do indicador, que durante o mês de Junho tinha atingido taxas de variação positivas.

Estes sinais claros de travagem no ritmo de retoma da economia portuguesa registados em Julho estão alinhados com a evolução da pandemia no país e, principalmente, com o rumo das medidas de confinamento adoptadas para a travar. A partir de Junho e durante o mês de Julho, assistiu-se à aplicação, em diversos concelhos do país, incluindo Lisboa, de medidas de confinamento mais apertadas que, como se tem provado ao longo desta crise, produzem efeitos quase imediatos nos níveis de actividade. 

Contrariar esta tendência negativa registada em Julho, que está já a ameaçar as expectativas de recuperação forte na segunda metade do ano, é assim uma das motivações para que o Governo, esta quinta-feira, tenha decidido avançar para a retirada, a partir de Agosto, de algumas das medidas de confinamento em vigor, como por exemplo com o fim da obrigatoriedade do teletrabalho ou o final do recolher obrigatório.

Durante o segundo trimestre deste ano já se tinha assistido, antes do início da quarta vaga da pandemia, a uma recuperação forte da actividade económica em Portugal, algo que deverá ser confirmado, esta sexta-feira, pelo INE quando divulgar a sua estimativa rápida das contas nacionais para o período entre Abril e Junho.

A expectativa geral é a de que o PIB tenha, no segundo trimestre do ano, regressado a uma taxa de crescimento em cadeia positiva, depois do recuo registado nos primeiros três meses do ano. A previsão da Comissão Europeia, por exemplo, é de um crescimento de 3,3% face ao trimestre imediatamente anterior. 

Em comparação com o mesmo período do ano passado, a variação positiva do PIB deverá ser ainda maior, já que se irá fazer sentir um efeito base muito acentuado explicado pelo facto de ter sido no segundo trimestre de 2020 que a economia se afundou, no arranque da pandemia.

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