Associação divulga vídeo de captura de pombos em Lisboa e critica métodos
A divulgação das imagens foi feita pela organização Animal Save and Care Portugal através das redes sociais, que considera a prática “bárbara”. Nas filmagens ouve-se um agente policial dizer que os animais serão soltos fora de Lisboa.
A organização Animal Save and Care Portugal divulgou através das redes sociais um vídeo captado na Praça das Flores, em Lisboa, onde é filmada a captura de pombos urbanos levada a cabo pela equipa da Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa. “É possível ver o sofrimento e aflição dos pombos, o stress que lhe está a causar, as suas tentativas vãs de se soltarem, assim como a indiferença dos trabalhadores e autoridades para com estes animais, referindo-se ao procedimento como ‘tratamento de pragas’”, critica a associação em comunicado.
No vídeo é possível ver a equipa, acompanhada por um agente da Polícia Municipal, a atrair pombos com milho, lançando-lhes depois uma rede para cima. O responsável pela filmagem inicia um diálogo com o agente, que afirma que, depois da captura, os pombos serão soltos noutro local longe de Lisboa e que a forma como estão a ser apanhados não os magoa e é rápida: “Isto está tudo bem tratado. Aqui ninguém sofre”, ouve-se.
As afirmações dos funcionários da autarquia são inaudíveis, mas, de acordo com o agente presente, este modus operandi é o mais adequado porque “é a única maneira para eles [pombos] não sofrerem”. No início do vídeo é possível ver uma máquina que dispara uma rede que imobiliza os animais. A quem filma, o agente explica que “isto [a rede] imobiliza. Quanto mais se mexem, mais isto imobiliza. Mas eles não stressam. Senão depois o efeito que nós queremos, para fazer a análise, não dá”. Relativamente à análise, quando questionado, o agente não esclarece de que se trata, mas afirma ser necessária e, para tal, os animais têm que estar vivos, esclarece.
“Sabemos que não é permitido soltar pombos de cidade noutros locais, que os pombos já serviram/servem de alimento vivo aos animais no Jardim Zoológico de Lisboa, e que têm sido mortos por envenenamento e/ou gaseamento”, acusa a organização.
O vídeo, divulgado nesta quarta-feira, surge cinco dias após a aprovação da Carta Municipal do Bem-estar Animal, aprovada por unanimidade em reunião de Câmara. Nesta estão contemplados oito pontos a que a CML se compromete e dos quais se destacam o repúdio a qualquer forma de violência exercida sobre os animais e o apoio às associações e organizações, defendendo o trabalho em conjunto em prol do bem-estar animal.
De acordo com a Provedora dos Animais de Lisboa, Marisa Quaresma dos Reis, “quem proclama estas medidas, não pode continuar a agir desta forma”. A provedora diz que as denúncias de capturas deste género não são novidade e este vídeo apenas o confirma. No entanto, “este caso é mais grave porque temos alguém da CML e da Polícia a dizer coisas que não são verdadeiras”, o que mostra um profundo “desconhecimento do que são pombos e quais as práticas correctas”. Um dos exemplos mencionados pela provedora diz respeito aos pombais contraceptivos (existem cinco em funcionamento em Lisboa) já que o agente presente remete - erradamente - para a questão da columbofilia: “Isso aí já é para a rapaziada que faz columbofilia; já entra na columbofilia”.
Por seu lado, a organização Animal Save and Care Portugal sublinha que considera “inaceitável que a CML continue a promover capturas em série, uma prática bárbara e díspar de uma dita civilizada, persistindo na difusão de informações falsas numa tentativa de justificar as atrocidades cometidas.”
Face ao vídeo, a Provedora dos Animais contactou a Câmara Municipal de Lisboa e a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV), na esperança que voltem a analisar os métodos de captura que são postos em prática. Marisa Quaresma dos Reis confessa que, face à desvalorização constante da CML em relação aos seus vários contactos, cada vez é mais claro que “o cargo de provedor é decorativo”, uma vez que “apesar de todos os esforços, quem está no poder continuar sem dar ouvidos”.
Em Junho, o PAN denunciou o desaparecimento de mais de 7000 pombos em Lisboa. A autarquia afirma que a sua captura tem como propósito realizar avaliações do estado sanitário dos animais. No entanto, não há registos ou resultados apresentados.
O PÚBLICO questionou a autarquia mas até ao momento não há resposta sobre o paradeiro dos animais.
Texto editado por Ana Fernandes