Somos menos e mais concentrados no litoral. País perdeu população entre Censos pela primeira vez desde 1970
Portugal perdeu população na última década, como só tinha acontecido entre os Censos de 1960 e 1970. O INE apresenta esta quarta-feira os resultados preliminares do último recenseamento.
Há 10.347.892 pessoas a viver em Portugal, menos 214 mil do que há dez anos, uma redução de 2%. Estes são os primeiros resultados (ainda preliminares) dos últimos Censos, divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Só por uma vez o país tinha perdido população entre Censos, entre 1960 e 1970, um período de forte emigração.
Estes resultados mostram como, na última década, o país “encolheu” de duas formas: ao perder habitantes e ao ver a população concentrar-se ainda mais no litoral, sobretudo em torno da capital e no Algarve. O saldo migratório positivo “não foi suficiente para compensar” a redução da população portuguesa, realçou o presidente do INE, Francisco Lima, na apresentação dos dados. Ou seja, desta vez a perda deve-se a um défice de saldo natural.
Cerca de metade da população vive em apenas 31 municípios, localizados maioritariamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. A análise por município permite verificar que os territórios do interior do país continuam a perder gente: dos 308 municípios portugueses, 257 registaram decréscimos e apenas 51 registaram um aumento.
Em decréscimo populacional, os cinco municípios que se destacam são Barrancos (-21,8%), seguindo-se Tabuaço (-20,6%), Torre de Moncorvo (-20,4%), Nisa (-20,1%) e Mesão Frio (-19,8%), revelou o INE.
No outro extremo estão Odemira, no distrito de Beja, que aumentou de 26.066 para 29.523 habitantes (13,3%), Mafra com 12,8%, seguindo-se Palmela, Alcochete e Vila do Bispo, com valores entre os 9,6% e os 8,8%.
Olhando para as regiões (NUTS II), o Alentejo é a região que regista o decréscimo mais expressivo. Só a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve cresceram, mas até o município de Lisboa perdeu habitantes, tal como o Porto.
Apesar da descida no número de habitantes, o INE encontrou mais agregados familiares, 4.156.017, o que faz com que a dimensão média seja menor: desceu para 2,5. Há mais mulheres do que homens a habitar em Portugal: 4.917.794 homens (48%) e 5.430.098 mulheres (52%).
Número de casas aumenta mas a ritmo “bastante inferior”
Quanto à construção, nos últimos dez anos Portugal registou um ligeiro crescimento do número de edifícios e de alojamentos destinados à habitação, embora num ritmo bastante inferior ao verificado em décadas anteriores: 1,2% e 1,4%, respectivamente. Estes números estão muito abaixo do que se verificou na década anterior, quando os valores se situavam na ordem dos 12% para edifícios e os 16% para alojamentos.
Para a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, os dados preliminares revelados esta quarta-feira, são fundamentais para tomar decisões e “minimizar os impactos da crise social e económica” decorrentes da pandemia de covid-19. “Neste contexto de incerteza em que vivemos, precisamos como nunca de informação, atempada, para desenhar políticas públicas”, afirmou, no encerramento da sessão de apresentação dos primeiros dados.
Demonstrando “orgulho” na “maior operação estatística da década”, que envolveu mais de 15 mil pessoas, a ministra elogiou o INE por ter conseguido adaptar-se ao “desafio acrescido da pandemia” e recordou o lema do próprio Censos: “Contámos todos e contámos com todos.”
Este ano, as respostas por via digital ultrapassaram os 99%. Segundo o INE, “a resposta expressiva pela internet contribuiu decisivamente” para que a operação “decorresse com toda a qualidade, tranquilidade e segurança exigidas face ao contexto de saúde pública do país, ditado pela pandemia da covid-19”.
Os resultados definitivos dos Censos 2021 só devem ser conhecidos no quarto trimestre de 2022, aponta o INE, adiantando que haverá uma sessão intermédia de apresentação de mais resultados provisórios em Fevereiro.