Rússia impera na ginástica quando não a tratam pelo nome
Este título russo no sector feminino completa o “bis” depois da conquista na prova masculina. Ginástica artística olímpica colectiva é, em Tóquio, sinónimo de Rússia. Ou de Comité Olímpico Russo, em bom rigor.
Ontem, sob a bandeira do Comité Olímpico Russo – assim mandou o escândalo de doping –, a Rússia conquistou a prova colectiva feminina de ginástica artística. Antes disso, tinham sido 29 anos de “jejum”. O último título colectivo feminino na modalidade, em Jogos Olímpicos, tinha sido em 1992. Esta não é mais do que uma mera trivialidade, mas, dessa vez, também não houve Rússia campeã: à data, o título foi entregue à Comunidade de Estados Independentes, união de países formada pós-União Soviética.
Denominações à parte, este foi o regresso dos russos aos títulos colectivos na ginástica feminina e a interrupção do reinado das americanas, que tinham ganho os últimos dois ouros olímpicos e não perdiam uma final colectiva de Jogos ou Mundiais desde 2010 – e os triunfos não tinham sido propriamente tangenciais por parte das dominadoras ginastas americanas.
Mas este desfecho, por surpreendente que fosse à entrada para os Jogos, deixou de o ser assim que se disputaram as rondas de qualificação. As atletas russas apareceram numa forma tremenda, com exercícios a roçarem a perfeição em quase todos os aparelhos. E apuraram-se para a final com a melhor marca.
Foi ali, na qualificação, que tudo começou a ser desenhado. Perante o tradicional dilema entre exercícios de grande dificuldade, em que podem existir falhas, ou exercícios mais acessíveis, mas que devem ser feitos na perfeição, as americanas, durante anos, não tiveram de escolher: faziam o mais difícil e faziam-no bem. E quando isso falha? Aí, impera a execução. Em Tóquio, as russas apostaram mais na execução do que na dificuldade e foram sempre precisas em todos os aparelhos.
E se com Simone Biles já seria difícil aos Estados Unidos lidarem com o alto nível russo, sem a melhor ginasta de sempre, que abandonou a prova a meio, o cenário estava cada vez mais favorável às soviéticas.
No final das quatro rotações pelos aparelhos, Vladislava Urazova, Viktoria Listunova, Angelina Melnikova e Lilia Akhaimova totalizaram 169,528 pontos, superando as rivais dos Estados Unidos, segundas classificadas, com 166,096, e da Grã-Bretanha, que conquistaram a medalha de bronze, com 164,096.
“Ainda não acreditamos que isto aconteceu. O impossível agora é possível”, começou por dizer Melnikova, que chorou após o seu exercício de solo – foi ela quem fechou o ouro para as russas. E acrescentou: “Estivemos num campo de treinos fechadas durante quase um ano e meio, sempre a trabalhar para este momento”.
Este título russo no sector feminino completa o “bis” depois da conquista na prova masculina. Ginástica artística olímpica colectiva é, em Tóquio, sinónimo de Rússia. Ou de Comité Olímpico Russo, em bom rigor.