A doença não travou o ouro de Dean e McKeown

O inglês contraiu por duas vezes covid-19, mas venceu os 200 metros livres; a australiana teve que superar a perda do pai vítima de cancro, mas foi a melhor nos 100 metros costas

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Kaylee McKeown conquistou o título olímpico em Tóquio Reuters/MARKO DJURICA

A competição de natação nos Jogos Olímpicos de Tóquio arrancou no passado sábado e vai prolongar-se até domingo, mas duas das 12 medalhas de ouro já atribuídas no Tokyo Aquatics Centre são exemplos de superação. De forma diferente, Tom Dean e Kaylee McKeown viram no último ano a sua preparação para as olimpíadas afectada por motivos de doença, mas a contrariedade não travou o ouro dos dois nadadores: na estreia na prova, o nadador inglês conquistou o título nos 200 metros livres, enquanto a australiana bateu toda a concorrência nos 100 metros costas.

Foi a primeira prova no programa da natação a atribuir medalhas na madrugada de terça-feira e ficará na história do Reino Unido por ter sido a primeira vez em 110 anos que dois nadadores britânicos dividiram os dois primeiros lugares na mesma prova dos Jogos Olímpicos. Porém, há cerca de meio ano, “o ouro olímpico estava a milhas de distância” do pensamento de Tom Dean.

Campeão europeu júnior em 2017 e 2018 nos 200 metros estilos, Dean viu o seu sonho de se estrear nos Jogos Olímpicos praticamente desfeito ao ser infectado pela covid-19 em Janeiro deste ano pela segunda vez. Apenas quatro meses depois de contrair a doença pela primeira vez, o inglês voltou a acusar positivo. E o vírus deixou marcas: o sistema cardiovascular e os pulmões do nadador foram afectados, forçando-o a uma paragem total e a um afastamento de mês e meio das piscinas.

Com as provas de apuramento para o Europeu, que se realizou em Maio, e para os Jogos Olímpicos agendadas para meados de Abril no London Aquatics Centre, Dean admite que enquanto esteve afastado das piscinas apenas “pensava em como seria possível” recuperar “a tempo de poder estar no bloco de partida” para garantir um lugar na equipa olímpica britânica, mais ainda após perceber que os seus pulmões, fundamentais para um bom rendimento natação, tinham sido afectados.

Mesmo sem ganhar nos 200 metros livres - Duncan Scott foi o primeiro, batendo o recorde britânico -, o segundo lugar de Dean com 1m44s58, bem abaixo dos 1m46s99 exigidos para a qualificação olímpica, acabou com as dúvidas sobre a recuperação do nadador.

Três meses depois, Tom Dean e Duncan Scott voltaram a estar lado a lado na piscina, mas, desta vez, no Tokyo Aquatics Centre o inglês conseguiu superar o amigo escocês – terminaram separados por apenas quatro centésimos. Mesmo sendo o favorito, no final Scott declarou que o ouro de Dean é “fantástico e merecido”, por tudo o que o nadador “passou este ano”. Para o novo campeão olímpico, foi “o concretizar de um sonho”: “Ter esta medalha ao pescoço é o maior feito da minha vida”.

Poucos minutos depois de terminar a prova masculina dos 200 metros livres, a medalha seguinte na natação foi entregue a outra nadadora que teve de lidar de perto com uma doença no último ano. Embora não tenha tido a sua saúde directamente afectada, Kaylee McKeown dificilmente teria competido nos Jogos Olímpicos se a prova não tivesse sido adiada.

Após uma luta de dois anos contra o cancro, o pai da nadadora australiana, que teve uma influência forte na carreira da atleta, morreu em Agosto de 2020 vítima de cancro. A perda do pai, que tinha 53 anos, acabou, no entanto, por ser uma motivação para McKeown.

Com a frase “Eu sempre estarei contigo” tatuada no pé em homenagem ao pai, a australiana percorreu os 100 metros costas em Tóquio em 57m47s, apenas menos dois centésimos do que o recorde do mundo que está na sua posse, conseguindo ultrapassar nos últimos metros a canadiana Kylie Masse e a norte-americana Regan Smith.

No final, McKeown explicou que sendo de uma “família muito optimista”, tentou sempre “aproveitar cada dia” com o pai “durante a quimio e radioterapia”, acrescentando que, embora tenha sido difícil ver o pai “a lutar”, acabou por capitalizar esses momentos como motivação.

“Vê-lo todos os dias na cama do hospital, foi um alerta de como sou sortuda por estar saudável e estar viva. O meu pai é agora uma grande inspiração para mim. Usei-o nos últimos 50 metros da corrida, pensando: ‘Vamos lá, pai. Ajuda-me a cruzar a linha’. Sei que ele esteve comigo.”

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