Marcelo desafia empresários a lutarem por protagonistas políticos mais fortes
Presidente da República entende que tem uma “visão realista voluntarista” sobre a evolução da pandemia. E desafia o sector privado a encontrar uma alternativa política.
O Presidente da República defendeu esta quarta-feira que é preciso evitar “dúvidas sobre a batalha” contra a covid-19 para se conseguir mobilizar os portugueses para o processo de vacinação, e qualificou a sua posição de “realista voluntarista”. Em dia de debate do estado da nação, Marcelo Rebelo de Sousa também deixou ainda um desafio aos empresários no sentido de prosseguirem a sua luta "para ter protagonistas institucionais, políticos e outros, mais fortes, para ter discurso político com mais eco nos momentos de decisão popular e eleitoral”.
Na sua mensagem de encerramento da conferência do Fórum para a Competitividade, o Presidente da República exortou os representantes do sector privado a lutarem por protagonistas políticos mais fortes que lhes dêem eco em momentos eleitorais e que constituam uma solução alternativa.
Numa intervenção de 20 minutos, o Chefe de Estado considerou que em Portugal “os protagonistas políticos, económicos e sociais defensores de um percurso diferente não têm logrado alcançar força persuasiva para que o seu discurso constitua um discurso alternativo e, sobretudo, constitua uma solução alternativa”.
“Não é impunemente que fomos das primeiras monarquias absolutas da Europa e das últimas a deixarem de o ser — se é que em quadros mentais o deixámos de ser, no que respeita à supremacia do Estado sobre a sociedade civil”, observou.
Marcelo incentivou o sector privado a “prosseguir o seu empenho ou, se quiser, a sua luta, para ter protagonistas institucionais, políticos e outros, mais fortes, para ter discurso político com mais eco nos momentos de decisão popular e eleitoral”, mesmo que esteja descontente com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Evitar dúvidas sobre a batalha
À saída da conferência no Centro de Congressos de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a comentar a expectativa do primeiro-ministro, António Costa, de uma "libertação total da sociedade” no final do Verão com a “imunidade de grupo”, em resultado da aceleração da vacinação.
Questionado se António Costa está a ir ao encontro da visão do Presidente da República nesta matéria, o Chefe de Estado respondeu: "Tem de perguntar ao senhor primeiro-ministro. A minha visão é o que é e, portanto, mantém-se o que é. Dirão alguns que é uma visão muito optimista. Não, é uma visão realista voluntarista”.
Marcelo Rebelo de Sousa insistiu que os actuais números de casos de infecção, de internamentos e de mortes associadas à covid-19 não são comparáveis aos que motivaram o recurso ao estado de emergência e afirmou que a sua posição contra um regresso a confinamentos generalizados “não é por causa só da economia”.
“É evidente que para a economia é muito importante. É para a saúde mental dos portugueses, é para a abertura da sociedade, e é porque é justo. Quer dizer, o esforço que se está a fazer na vacinação exige uma mobilização”, acrescentou.
O Presidente da República argumentou que “ninguém é mobilizado para uma guerra dizendo: estamos nesta batalha mas olhem que isto vai correr mal, há dúvidas sobre a batalha, não sei se não vamos recuar amanhã ou depois de amanhã. Ninguém combate assim. Só se combate sabendo que é preciso acreditar naquilo por que se está a combater”, defendeu.
Interrogado sobre o debate desta tarde na Assembleia da República sobre o estado da nação e sobre a situação do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a fazer qualquer comentário.