A mesma quantidade de chuva, mas concentrada em menos dias

“Quando há chuva, é mais intensa”, explica investigador alemão sobre as anomalias registadas nos padrões de precipitação. Meteorologista da Universidade de Leipzig diz que a Alemanha “está a aquecer duas vezes mais depressa do que o ritmo global de aquecimento”, aumentando a probabilidade de chuvas fortes.

Foto
Chuvas fortes causaram inundações no centro da Europa, vitimando mais de 100 pessoas FRIEDEMANN VOGEL/EPA

Um dilúvio fora de época e de proporções anormais deixou um rasto de destruição em partes da Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. Os cientistas não esperavam nem a intensidade, nem a dimensão, deste evento climático extremo, mas, juntamente com vários líderes políticos, não hesitaram em atribuir o impacto do mau tempo às alterações climáticas.

Uma tempestade causada por um grande sistema de baixa pressão fez cair em cerca de 48 horas 148 litros de chuva por metro quadrado em partes da Renânia-Palatinado e Renânia do Norte-Vestefália, dois dos estados mais afectados e que habitualmente registam 80 litros durante todo o mês de Julho.

Dieter Gerten, professor de climatologia e hidrologia no Instituto para a Investigação do Impacto Climático de Potsdam, e natural de uma das localidades mais afectadas, não esperava um desastre que ultrapassasse com tanta margem “os recordes anteriores, em termos de dimensões espaciais e da rapidez com que evoluiu”, disse, citado pelo Guardian.

Segundo o relatório European State of the Climate de 2020, realizado pelo Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus (também designado de C3S) do Centro Europeu para as Previsões Meteorológicas a Médio Prazo, os níveis de precipitação foram, no ano passado, ao encontro da média anual, embora tenham sido registadas “anomalias entre regiões e entre diferentes alturas do ano”, lê-se no documento. Peter Hoffmann, também do Instituto de Potsdam, corrobora esta conclusão, referindo que há provas que a mesma quantidade de chuva cai durante menos dias do ano: “Quando há chuva, é mais intensa”, afirmou à emissora alemã DW.

No caso da Alemanha, “sendo um país industrial, está a aquecer duas vezes mais depressa do que o ritmo global de aquecimento”, disse Johannes Quaas, meteorologista da Universidade de Leipzig, citado pela DW. Isso significa que “comparando com o século XVIIIa probabilidade de chuvas fortes é superior em 20%, e 10% mais alta do que há quatro décadas”, afirmou.

O relatório do C3S indica ainda que o ano de 2020 foi o mais quente de que há registo na Europa, com 1,6ºC acima da média, e pelo menos 0,4ºC mais quente do que os cinco anos imediatamente mais quentes – todos registados na última década. 

Embora ainda esteja por analisar até que ponto a actividade humana potenciou tempestades como esta, “com as alterações climáticas esperamos que os extremos hidrometeorológicos se tornem ainda mais extremos”, explicou Carlo Buontempo, director do  C3S), citado pelo Guardian. “E o que vemos na Alemanha é, em grande medida, consistente com essa tendência” de eventos climáticos mais frequentes e intensos, acrescentou.

Apesar de as inundações serem um fenómeno complexo causado por vários factores, com o aumento das temperaturas e uma atmosfera mais quente, mais água é retida e depois libertada. Também a água do oceano ou dos solos evapora mais rapidamente, causando consequentemente mais precipitações extremas.

Sugerir correcção
Comentar