Governo afegão tenta reactivar negociações de paz com os taliban
Delegação política viajou para Doha e pede ao grupo jihadista para aproveitar “oportunidade”. Combates no Afeganistão intensificam-se desde a retirada militar norte-americana.
Numa altura em que os taliban e as forças do Governo do Afeganistão estão envolvidas nos piores confrontos dos últimos meses e em vários pontos do país, uma delegação de líderes políticos partiu esta sexta-feira para Doha, no Qatar, numa tentativa de reactivar as negociações de paz com o grupo fundamentalista islâmico.
À frente da comitiva estava Abdullah Abdullah, líder do Alto Conselho para a Reconciliação Nacional, antigo chefe-executivo do Governo e responsável máximo pelas negociações do lado do executivo.
No aeroporto de Cabul, antes da partida, pediu aos taliban para encararem este gesto do Governo como uma “oportunidade” para renovarem o seu compromisso em alcançar a paz, num país em guerra civil há mais de duas décadas.
“Esperamos que os taliban encarem isto como uma oportunidade e percebam que não haverá paz enquanto houver conquistas sucessivas de distritos”, afirmou Abdullah, citado pela Reuters.
“O objectivo da paz só pode ser atingido na mesa de negociações e, apesar de todo a dor que o nosso povo sofre nos dias de hoje, acreditamos que ainda existe uma hipótese para a paz”, insistiu.
O Presidente Ashraf Ghani também instou os jihadistas a cooperarem com os representantes políticos do país: “Pedimos aos talibãs para trabalharem com o Governo afegão para resolver adequadamente os problemas”.
Com o início da operação de retirada militar das forças norte-americanas e ocidentais do terreno, o grupo jihadista tem aproveitado para intensificar os seus ataques, lançando-se à conquista de territórios, que incluem várias capitais de província e distritos do país.
Esta sexta-feira as forças afegãs informaram que há confrontos activos em 15 das 34 províncias do Afeganistão. Mais recentemente, o foco dos taliban virou-se para a província de Kandahar e os importantes postos junto à fronteira com o Paquistão.
Vários países da região, incluindo o Paquistão e o Usbequistão, têm demonstrado a sua preocupação com o aumento do número de refugiados que estão a entrar nos respectivos territórios, fugindo da guerra afegã.
As discussões em Doha já tiveram várias etapas e arrastam-se há vários meses, sem nunca terem produzido um acordo de paz ou de cessar-fogo suficientemente robusto para perdurar ao longo do tempo.