Este Governo vai fazer a maior compra da história da CP?
O ministro das Infra-Estruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, anunciou esta semana a compra de 117 comboios para a CP
A frase
“Vamos fazer a maior compra da história da CP”
Pedro Nuno Santos, ministro das Infra-Estruturas e Habitação
O contexto
O governante fez esta afirmação na conferência do Conselho de Ministros de quinta feira, onde foi aprovada a compra de 117 comboios para a CP: 34 para a linha de Cascais (substituindo 29 unidades que têm mais de 50 anos), 16 para as linhas de Sintra, Azambuja e Sado, 12 para os suburbanos do Porto e 55 para serviço regional.
Os factos
A CP tal como a conhecemos data de 1997, quando foi criada a Refer (hoje Infra-Estruturas de Portugal), que ficou responsável pela infra-estrutura ferroviária. Antes dessa data, seguramente que a velha e majestática CP terá feito investimentos bem maiores no âmbito da construção e electrificação de linhas férreas.
Deve a análise cingir-se, pois, ao que é comparável – a compra de material circulante. E neste aspecto, por muito que se recue, não se encontra uma tão grande encomenda para comprar comboios para a CP.
Uma das maiores foi a de 24 locomotivas a vapor para comboios de mercadorias compradas à Alemanha em 1924, mas que não se aproximam, nem de longe, da encomenda actual.
A empresa, mercê do seu sempiterno estrangulamento financeiro, comprou sempre em pequenas quantidades, ao ritmo da generosidade (pouca) financeira do Estado. A maior compra de uma só vez foram 30 locomotivas a diesel das séries 1900/1930 (de origem canadiana), que entraram ao serviço em 1981. As locomotivas 1400, provenientes do Reino Unido, também a diesel, foram a maior série da CP (67 unidades), mas também não foram compradas de uma só vez. E mesmo as 30 locomotivas eléctricas 5600, alemãs, adquiridas no início dos anos 90, foram desdobradas em dois contratos.
Mais comparável é falarmos de automotoras - composições que não são compostas por uma locomotiva a rebocar carruagens, mas sim um conjunto de veículos em que a tracção é distribuída pelos vários veículos. Foi isto que o ministro anunciou. Mas na história da CP a maior encomenda de sempre foram as 42 UQE (Unidades Quádruplas Eléctricas) para a linha de Sintra, fabricadas na velha Sorefame. Dá um total de 168 veículos, mas não tem nada a ver com a intenção de compra agora anunciada, que se situa entre 351 a 417 veículos consoante as composições a adquirir tenham três ou quatro carruagens.
Mesmo a compra dos dez comboios pendulares, em 1998, por 25 milhões de contos (cerca de 125 milhões de euros), é muito inferior aos 819 milhões de euros de investimento agora anunciado.
A última compra de material circulante da CP já tem 21 anos. Foi em 2000 que a empresa comprou 34 unidades suburbanas para o Grande Porto por 155 milhões de euros. A última encomenda feita na Sorefame antes da fábrica fechar.
Por isso, a compra de 117 automotoras eléctricas agora anunciadas, por 819 milhões de euros é, assim, a maior compra de material circulante da CP.
Em resumo
A frase de Pedro Nuno Santos é verdadeira.