Para Nyusi, a presença de soldados ruandeses em Moçambique é um garante de soberania
Líder da oposição fala em ilegalidade porque a Assembleia da República não foi ouvida sobre a presença do contingente militar do Ruanda em Cabo Delgado.
A chegada de um contingente de mil militares e polícias ruandeses a Moçambique para apoiar o Governo moçambicano no combate aos insurgentes em Cabo Delgado provocou insatisfação dentro e fora do país. Dentro da Comunidade de Estados da África Austral (SADC), cujos membros acordaram enviar uma força para ajudar as Forças de Defesa de Moçambique, a notícia foi mal recebida, enquanto internamente, fala-se em “ilegalidade” por a Assembleia da República não ter sido informada.
Para Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique, trata-se de uma questão de “soberania”. Moçambique precisa de forças estrangeiras para combater os jihadistas que há quase quatro anos travam uma guerra em Cabo Degado, mas o chefe de Estado quer garantir a todo o custo que o controlo da situação não escape das mãos do seu Governo para as tropas estrangeiras.
“Vamos trabalhar com os nossos irmãos do Ruanda e a SADC também está a chegar”, disse Nyusi, falando durante uma visita a unidades militares na província de Sofala, citado pela agência Lusa. “Nós somos um país soberano e a SADC respeita isso”, acrescentou o Presidente.
Algo que não parece corresponder exactamente à verdade, tendo em conta a reacção da ministra da Defesa sul-africana, Nosiviwe Mapisa-Nqakula: “Independentemente do acordo bilateral, o que esperava é que a intervenção do Ruanda para ajudar Moçambique acontecesse no âmbito do mandato regional decidido pelos chefes de Estado da SADC”.
A chegada na sexta-feira dos mil soldados ruandeses a Moçambique não apanhou, no entanto, ninguém de surpresa, depois de, em Maio, o Presidente ruandês, Paul Kagame ter enviado uma equipa de oficiais a Cabo Delgado para avaliar, isso mesmo, um potencial apoio militar às forças moçambicanas. Isto na sequência de uma viagem secreta de Nyusi ao Ruanda no final de Abril, de acordo com o Africa Intelligence, que aparentemente teria sido para solicitar o auxílio militar ruandês.
“Existem planos para enviar, mas os planos estão ainda finalizados”, dizia o porta-voz das Forças de Defesa do Ruanda, Ronald Rwivanga, a 24 de Junho, citado pela Bloomberg. Na sexta-feira, o coronel Rwivanga confirmava, à AFP, que “a missão estava baseada num pedido do Governo de Moçambique” e visa “operações de segurança e estabilização assim como reforma do sector de segurança”.
Situação “ilegal”
“O que nós pensávamos que iria acontecer era que a SADC viria com a sua força a partir do dia 15, mas ficámos surpreendidos quando percebemos que primeiro chegou a força ruandesa, o que preocupa os moçambicanos”, afirmou por seu lado Ossufo Momade, o líder da Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, citado pela Lusa.
Momade diz que “os militares ruandeses estão no país de forma ilegal na medida em que a Assembleia da República não teve conhecimento e os próprios países que fazem parte da SADC foram apanhados de surpresa”.
“O Presidente deve respeitar a Constituição e levar este assunto à Assembleia”, acrescentou o líder da Renamo.
Aquilo que sublinhava a ministra da Defesa sul-africana, no sábado, era precisamente o facto de as forças ruandesas terem chegado a Cabo Delgado primeiro que o contingente enviado pela organização regional a que Moçambique pertence, ao contrário do Ruanda.
Na segunda-feira, em declarações ao Notícias moçambicano, o ministro da Defesa falava em “problemas de comunicação” para justificar o mal-estar na SADC pela chegada da força ruandesa. “Iremos continuar a comunicar para assegura que, ao nível do comando da SADC, esteja tudo bem para evitar equívocos”, acrescentou.
O ministro sublinhou, no entanto, que “está tudo bem com a SADC” e até deu a informação que no sábado aterrou um avião em Pemba, a capital de Cabo Delgado,” com três majores e um coronel que vêm criar condições para que a força da SADC possa se instalar melhor”.