Pintura inspirada em Marielle Franco em leilão para apoiar a Casa T

Até 20 de Julho, a obra Marielle Vive, da artista brasileira Jaqueline Arashida, está em leilão para apoiar a Casa T, que acolhe pessoas trans e imigrantes. A pintura é inspirada na antiga vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, como símbolo de “resistência”.

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Jaqueline Arashida ao lado da obra a que chamou Marielle Vive. Lui Avallos

O Pandemónio e o Coral, colectivos artísticos e culturais de Lisboa, juntam-se num leilão no qual os lucros revertem na totalidade para a Casa T, que acolhe pessoas trans e imigrantes. As licitações estão abertas, no site do Coral, até 20 de Julho.

Numa tarde de improviso, as artistas do Pandemónio, Jaqueline, Kruella e Marcela, deram música e cor à sede do colectivo Coral, na Penha de França, em Lisboa. Jaqueline Arashida pintou a obra Marielle Vive, numa placa de madeira com mais de um metro de altura, inspirada em Marielle Franco, antiga vereadora do Rio de Janeiro. 

“Marielle saiu da periferia e ousou ter voz, ousou denunciar a brutalidade, a violência e os assassinatos cometidos pelos militares. É por isso que ela foi executada com quatro tiros na cabeça, no centro do Rio de Janeiro”, afirmou a activista Maria Eduarda Otoni, numa homenagem a Marielle Franco, a 19 de Março de 2018. “Ninguém aceitava que uma mulher negra tinha sido eleita e tinha voz activa. E é por isso que hoje todas estamos aqui e nós não vamos esquecer. Marielle, presente!”, continuou, citada pelo PÚBLICO.

Três anos depois, Marielle não foi esquecida, mas o seu assassinato continua por esclarecer. “Esta peça é tão importante para a Jaqueline como para nós, no Coral. Somos imigrantes, acho que todas as pessoas, inclusive da Casa T, são brasileiras”, explica Letícia Mendes, do colectivo Coral. “O assassinato da Marielle no Brasil foi muito forte, muito marcante. Para nós, tornou-se sinónimo de resistência, através da cultura, da arte. A Casa T também acolhe muitas pessoas artistas, migrantes, racializadas. Toca-nos a todas. Vamos lembrar-nos do assassinato da Marielle todos os dias.”

Um dos pequenos negócios que integraram o colectivo Coral, o Valsa, é um “bar de causas” e mantém uma relação próxima com a Casa T desde a sua fundação. “Tentamos saber aquilo de que precisam e ajudar o máximo que conseguimos, daí surgiu a ideia de doar este valor, para que o usem na manutenção da casa.”

No Verão de 2020, a Casa T nasceu “em resposta à crise habitacional generalizada e agravada para pessoas ‘transvestigêneres’ e/ou imigrantes e/ou racializadas”, dizem, em comunicado. Sem financiamento, as rendas e despesas são pagas através do site de angariação de fundos Gofundme, onda todas as pessoas podem doar qualquer quantia. Em 2021, planeiam formalizar-se enquanto associação, e expandir a Casa T em Portugal.

O leilão promovido pelo Coral, a decorrer durante dez dias, começa a 10 de Julho, com uma licitação mínima de 300 euros. “Precisávamos de começar com um valor que fizesse sentido para a Casa T, vai ajudar a que se mantenham por mais alguns meses, para que o projecto possa respirar de alívio”, justifica Letícia Mendes. “Estamos optimistas. Vai ser algo simbólico, num momento em que precisamos muito de nos entreajudar.”

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